O Teatro Univates esteve lotado na noite dessa terça-feira, 23 de setembro, para receber um dos maiores intelectuais da atualidade, o astrofísico Marcelo Gleiser, também professor no Dartmouth College (EUA). O evento, promovido pela Universidade do Vale do Taquari - Univates e pelo Grupo A Hora, reuniu autoridades, empresários e comunidade regional para refletir sobre ciência, meio ambiente e o futuro da vida no planeta.
Com o tema “Reconstruir e Reencantar: ciência, consciência e o cuidado com a vida”, a palestra abordou os desafios da sobrevivência humana em tempos de crise climática e desinformação, propondo uma reintegração com a natureza.
A abertura contou com a fala da reitora da Univates, professora Evania Schneider, que agradeceu a presença de Gleiser. “Espero de verdade que todos nós possamos sair daqui com muito mais do que reflexões, mas com grandes aprendizados para toda a nossa vida”, disse.
Entre as autoridades presentes estavam a prefeita de Lajeado, Gláucia Schumacher, o vice-prefeito, Guilherme Cé, o promotor de Justiça Sérgio Diefenbach, o presidente da Fundação Univates, Carlos Cândido da Silva Cyrne, e o vice-presidente da Instituição, Júnior Roberto Willig.
O evento teve patrocínio do Sicredi Integração RS/MG e apoio da Prefeitura de Lajeado, da Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (AMP/RS) e da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat).
A Terra como templo sagrado
Ao longo de sua exposição, Gleiser relacionou ciência, ancestralidade, espiritualidade e tecnologia, defendendo uma reconexão da humanidade com o planeta. Ele destacou que a exploração descontrolada de recursos naturais não é sustentável.
“É impossível crescer infinitamente em um planeta finito”, alertou ao falar sobre o impacto do aumento populacional e do modelo atual de desenvolvimento urbano.
Para o astrofísico, a saída está em uma mudança de consciência coletiva. “Quando entendemos que o planeta Terra é especial, que tem essa biodiversidade de vida e natureza incrível, a gente tem que pensar o nosso papel de donos e objetificadores da natureza para nos tornarmos protetores, voltando à sabedoria ancestral de que a Terra é, sim, sagrada”.
Ações individuais e coletivas
Gleiser defendeu que pequenas atitudes podem gerar impacto positivo. “É muito fácil falar que não é meu problema. Isso não é uma boa maneira de criar uma comunidade. Para criar, a gente tem que se inspirar pelo mundo e agir, seja usando menos energia, menos água ou mais transporte público. Existem ações que cada um de nós pode fazer”, afirmou.
Ele também reforçou a importância de um sentido de pertencimento comum. “Temos que reconstruir as pontes entre nossos corações para que nós todos sejamos uma tribo só. A natureza não vê fronteiras, o mundo é uma coisa só, e a gente tem que reaprender a se reintegrar com esse mundo”.
Diante da intensificação de eventos climáticos extremos, o astrofísico destacou que a sobrevivência depende da aproximação com o ambiente natural. “Esquecer disso é assinar um futuro que eu não quero ver para meus filhos, e aqui vocês têm um exemplo muito vivo do que pode acontecer com elementos que ficam fora de controle”.
Gleiser também ironizou a ideia de colonizar outros planetas, como Marte, ‘“um deserto gelado”.
Ao final da palestra, a professora e pesquisadora da Univates Luciana Turatti e Fernando Weiss, do Grupo A Hora, conduziram um momento de perguntas. Os questionamentos abordaram aspectos pessoais e filosóficos de Gleiser, como seu estilo de vida, sua visão sobre a morte, seus comportamentos cotidianos e também reflexões sobre como utilizar diferentes espaços para promover processos educacionais, para além das gerações atuais.
Camila Volken, arquiteta e urbanista formada pela Univates, prestigiou o evento. “O Marcelo conseguiu cativar a todos com seu olhar profundo sobre a nossa existência, trazendo dados científicos e reflexões sobre o nosso compromisso em cuidar da natureza, a qual pertencemos. Foi muito bom estar presente, com certeza um momento instigante e transformador”, relatou.
Quem é Marcelo Gleiser
Gleiser é um dos maiores intelectuais da atualidade, reconhecido mundialmente pelo trabalho como astrônomo, físico e membro da American Physical Society. É professor titular de Física e Astronomia no Dartmouth College (EUA) há mais de 30 anos. Em 2019 foi o primeiro latino-americano a vencer o Prêmio Templeton, considerado o Nobel da espiritualidade, por seu trabalho excepcional na integração entre ciência e humanidades.
Atualmente reside na Toscana, Itália, onde fundou, em 2024, o think tank “The Island of Knowledge”, dedicado a questões científicas e filosóficas fundamentais, além de promover a saúde planetária e o florescimento humano.
