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O que o Vale do Taquari pode aprender com o Vale do Silício

Postado em 27/01/2017 14h38min e atualizado em 12/01/2018 11h27min

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A criatividade, a inovação e o empreendedorismo ganharam um espaço de debate na Univates, no início do mês de outubro, quando a Instituição realizou a primeira edição do CRIExp, que já nasceu sendo um dos maiores eventos da área no Brasil. Ao longo de três dias, foram realizadas mais de 90 atividades com 30 palestrantes de diversos países e do Brasil, reunindo mais de três mil participantes. Diretamente do Vale do Silício – uma região da Califórnia (Estados Unidos) reconhecida por suas empresas inovadoras, especialmente na área da tecnologia –, Justin Wilcox e Henrik Scheel trouxeram ideias para fomentar a inovação e o empreendedorismo.

Confira algumas impressões e metodologias usadas por eles nas entrevistas a seguir:

Henrik Scheel é fundador da Startup Experience – uma empresa do Vale do Silício que realiza workshops interativos visando à solução de grandes problemas sociais por meio do empreendedorismo. Ele trabalha com projetos de educação empreendedora, investimento de impacto e no desenvolvimento de startups tecnológicas de vários segmentos. Quando ainda era estudante de engenharia, Henrik fundou duas startups: uma de reciclagem e outra de design thinking.

Sua primeira palestra no CRIExp foi sobre como construir uma startup. O que pode ser aproveitado nas empresas tradicionais e como?
Empresas tradicionais também precisam adotar a abordagem de empreendedorismo e entender que a sociedade está mudando cada vez mais rápido. Se elas não estão disponíveis a se adaptar a essa mudança constante de comportamento e necessidade do consumidor e do usuário, se tornarão desatualizadas e serão atropeladas pela próxima onda de empresários corajosos. Então, todo tipo de gestão inovadora ou cada CEO [diretores executivos] deve encarar isso seriamente. Os diretores também precisam se tornar mais  rápidos em se reinventarem, porque se continuarem fazendo o que sempre fizeram, usando os mesmos produtos e os mesmos canais de distribuição, o comportamento do consumidor irá mudar e eles estarão fora do mercado – alguém virá e irá acabar com a indústria deles muito rápido. Grandes empresas também precisam olhar para inovações práticas e disruptivas e, em vez de fazerem inovações incrementais da maneira como costumavam fazer ao melhorar um produto, acrescentar algumas funcionalidades ou talvez tornar os produtos menores, mais rápidos ou mais atrativos visualmente, nós temos que olhar para o nosso negócio pensando-o para daqui a cinco ou 10 anos. Precisamos olhar mais para essas tendências de inovações disruptivas que podem mudar completamente a maneira pela qual operamos nosso negócio.

Como você explica o design thinking? Ele pode ser utilizado em qualquer problemática?
Sim, ele pode ser usado. O design thinking é uma metodologia que ajuda a analisar problemas, a entender necessidades não delineadas para qualquer tipo de produto, então, antes mesmo de você começar a ter ideias, você precisa ter entendimento sobre o problema que você está tentando resolver. O que o design thinking faz é permitir gerar um monte de ideias em um período curto de tempo e ter uma solução muito melhor. Em vez de tentar ter uma boa ideia aleatoriamente enquanto você está no banho ou caminhando, essa é uma metodologia estruturada para criar o máximo de alternativas possíveis em menos tempo.

O que seria um bom programa de inovação corporativo? O que ele deve compreender para ser um bom programa?
Há dois tipos de inovação: de incremento e o que nós chamamos de inovação disruptiva ou inovação radical. Esses dois modelos são muito diferentes, pois são processos, pessoas, orçamentos e mentalidades diferentes. Então, se você quer buscar uma inovação mais disruptiva, a empresa precisa destinar um bom investimento para esse novo departamento de inovação, que deve ser bastante autônomo. Isso significa que ele pode não operar dentro do sistema de colaboração já existente, mas deve ser independente o suficiente para buscar ideias que não são parte do atual roteiro, porque, de outra maneira, esses setores serão extintos. As corporações existentes vão simplesmente eliminar essas ideias, porque elas não se encaixam no contexto atual. Então, se você busca a inovação disruptiva, você precisa fazer isso de uma maneira que possa ser operacionalizada em uma unidade independente.

Justin Wilcox é fundador da plataforma Customer Dev Labs/Vale do Silício e autor do guia The Focus Framework – um guia sobre a metodologia lean para desenhar processos e soluções. Ele esteve no Brasil pela primeira vez durante o CRIExp.

O que você pensa sobre uma instituição como a Univates promover um evento como o CRIExp?
Há muitas pessoas que falam sobre empreendedorismo e em ajudar as pessoas, mas você precisa pegar a energia do empreendedorismo que está circulando no mundo e realmente fazer algo com isso. A Univates está fazendo exatamente isso. Se aqui pode ser um Vale do Silício daqui a 100 anos? Eu acredito que cada região tem o seu próprio Vale do Silício, então, esse pode ser o correspondente ao Vale do Silício no Brasil, ou na América Latina, e Porto Rico pode ser o Vale do Silício do Caribe, e cada um pode ajudar as pessoas da sua região de uma maneira única. Não há razões para que não tenhamos versões locais do Vale do Silício e a Univates está fazendo um ótimo trabalho para fazer isso acontecer aqui.

Em uma de suas palestras, você fala sobre as lições do Vale do Silício. Qual é a lição mais importante?
A lição mais importante é a distinção entre um inventor e um empreendedor. Um inventor ama produtos e um empreendedor ama pessoas. Dessa forma, muitas vezes vemos inventores que tentam se tornar empreendedores e fracassam, pois estão pensando muito no produto. Então, o melhor que podemos fazer por nossa comunidade é ajudar as pessoas a entenderem que o caminho para o sucesso é ajudar outras pessoas e não se preocupar tanto em relação ao produto em si.

Quais são as tendências quando se fala em conectar pessoas e mercado? Se você fosse ouvir o mercado, quais seriam as tendências a serem exploradas por startups ou empresas tradicionais?
Eu não sou um especialista em futurismo, eu não sigo tendências. As ferramentas que eu ensino tratam sobre entender quais são os caminhos do seu usuário ou cliente, porque geralmente as pessoas que descrevem tendências são diferentes dos clientes. Há muito o que se falar em realidade virtual, então de repente essa seja uma tendência para os próximos anos, mas o que eu preciso fazer é deixar que meus clientes me digam quais são seus problemas e como podemos usar essas tecnologias, sejam elas tendências ou não, para ajudá-los.

Em suas palestras e workshops, você comenta que falhou sete vezes. Ao falhar, qual foi o principal aprendizado dessas experiências?
Eu aprendi exatamente o que eu ensino agora, ou seja, que a minha ideia sobre o mundo é menos importante do que a do meu cliente. Eu sigo o que o meu cliente quer.

Esta matéria faz parte da edição nº3 da Revista Univates. A versão digital pode ser conferiada aqui.

Entrevista por Artur Dullius e Nicole Morás

Justin Wilcox

Tuane Eggers

Henrik Scheel

Artur Dullius

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