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Mais de 40 espécies de ácaros já descritas

Postado em 17/05/2018 10h36min e atualizado em 17/05/2018 10h41min

Por Artur Dullius

Parte fundamental para a validação de pesquisas, a descrição de ácaros é uma das etapas mais importantes no estudo da biologia. É ela a responsável por caracterizar novas espécies até então desconhecidas para a ciência. No Brasil, apenas dois laboratórios de acarologia são referência nesse serviço: o da Universidade de São Paulo (USP) e o da Universidade do Vale do Taquari - Univates.

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis, o professor Juarez Ferla lembra que em países europeus ou nos Estados Unidos grande parte das espécies já foi mapeada. No entanto, acredita que no Brasil muitas ainda não foram descritas. “Não é possível construir conhecimento e publicar informações sem ter a descrição da espécie. No Rio Grande do Sul acabamos nos deparando com muitas espécies novas de ácaros e fomos forçados a nos especializarmos nessa área, pois precisávamos dessas descrições”, explica.

Tuane Eggers

Em 10 anos de atuação já foram descritas 42 novas espécies de ácaros. Além disso, dois novos gêneros também foram descritos. O trabalho exige paciência e olhar apurado para que seja possível localizar os fatores que diferenciam uma espécie de outra. A Univates conta atualmente com três profissionais dessa área. Guilherme da Silva, especialista reconhecido por seu conhecimento sobre a superfamília Tydeoidea (famílias Tydeidae e Iolinidae), e Liana Johann são taxonomistas especializados em ácaros da família Stigmaeidae. Matheus Rocha é especialista na identificação e descrição de ácaros da família Cunaxidae. Além disso, os profissionais  também identificam e descrevem espécies pertencentes à família Phytoseiidae, grupo mais importante em programas de controle biológico de ácaros praga.

Um organismo habita um espaço, se alimenta, se reproduz e tem uma função dentro desse ambiente. Cada um cumpre seu papel e por isso são diferentes. Resta a nós descobrirmos qual é essa função, para então mapearmos se ela está associada a um determinado problema ou se em algum momento pode ser utilizada para o nosso benefício
Juarez Ferla, coordenador do Laboratório de Acarologia

No entanto, para que esse processo seja feito, o professor lembra que antes é preciso ter todas as espécies identificadas dentro daquele grupo. Após a coleta do organismo no campo, é realizada a montagem em lâmina e, no microscópio, inicia a tentativa de identificação dos fatores de diferenciação. A descrição é então a última etapa, quando o pesquisador desenha, mede e compara o organismo com as demais espécies já conhecidas no mundo.

Referência internacional

Segundo Ferla, a carência por esse serviço se expande também pela América do Sul. Países como Argentina e Uruguai não contam com profissionais nessa área. Além disso, recentemente pesquisadores do México e da Colômbia têm buscado o laboratório da Univates para se qualificarem. “Existe a necessidade do saber. Toda pesquisa parte da descrição do organismo, então quando você se torna independente disso é possível avançar de forma mais tranquila nos estudos. Mas poucos fazem esse trabalho, pois ele exige preparação, habilidade e competência do profissional”, explica.

O professor lembra ainda de um caso ocorrido com a Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, que buscou a Univates para a descrição de duas espécies novas de ácaros para uma pesquisa que buscava combater (de maneira natural) a praga que ataca as plantas de lichia. “Eles realizaram toda a pesquisa, mas não podiam publicá-la, pois os organismos estudados não estavam descritos, eram espécies novas para a ciência. Na verdade elas não existiam para a ciência. Então solicitaram nossa ajuda para fazer a descrição da espécie o mais rápido possível”, relembra Ferla.

Utilização de característica molecular

Atualmente, grande parte da descrição dos ácaros se dá por características morfológicas avaliadas pelo pesquisador. Entretanto, o Laboratório de Acarologia da Univates está avançando e deve começar a utilizar a área molecular. Conforme o professor, hoje essa ferramenta ainda é opcional, mas nos próximos cinco ou 10 anos deverá se tornar obrigatória. “Se você se deparar com dois indivíduos muito parecidos, vai ser necessário utilizar a parte molecular para diferenciá-los”, conclui Ferla.