A Universidade do Vale do Taquari – Univates está na linha de frente de um projeto científico inovador e estratégico para o Rio Grande do Sul: o Biovales – Centro de Análises de Compostos Bioativos dos Vales. Com apoio do Governo do Estado, por meio do edital InovaRS 2022, a iniciativa reúne a Univates, a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), além das empresas parceiras Syntalgae Sustainable e Inovamate.
O Biovales propõe soluções práticas para produtores, empreendedores e comunidades locais, utilizando a ciência para agregar valor à biodiversidade regional e contribuir com desafios globais, como segurança alimentar, nutrição e sustentabilidade ambiental.
A Instituição é articuladora de frentes científicas importantes para o projeto. A universidade concentra laboratórios altamente equipados, pesquisadores com formação internacional e tradição em estudos na área da biotecnologia. Além disso, conta com forte inserção regional, o que garante a integração da pesquisa acadêmica com as demandas concretas da sociedade.
O projeto Biovales tem como objetivo o desenvolvimento de técnicas laboratoriais, buscando transformar o conhecimento em serviços de impacto direto na economia local e na qualidade de vida da população
Saiba mais sobre o projeto clicando aqui.
O que são compostos bioativos e por que eles importam?
Compostos bioativos são substâncias presentes em pequenas quantidades em plantas e alimentos, que, embora não sejam essenciais para a sobrevivência humana, possuem funções biológicas importantes. Eles atuam na prevenção de doenças crônicas, como diabetes, obesidade, câncer e problemas cardiovasculares, além de apresentar propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
O ácido clorogênico, por exemplo, encontrado na erva-mate, é conhecido por sua ação antioxidante e por auxiliar no controle da glicemia. Já os carotenoides, presentes em microalgas e algumas plantas alimentícias, são pigmentos naturais com reconhecido potencial na saúde ocular, na imunidade e na prevenção de doenças degenerativas.
Identificar, classificar e quantificar esses compostos é, portanto, um passo importante para agregar valor nutricional e econômico a produtos agrícolas, transformando matérias-primas simples em insumos de alto valor no mercado global.
Um método inovador, acessível e sustentável
O grande diferencial do Biovales está em sua proposta metodológica: criar um sistema rápido, de baixo custo e ambientalmente sustentável para análise de compostos bioativos. Tradicionalmente, análises químicas demandam reagentes caros. O projeto, no entanto, aposta em técnicas baseadas na espectrometria de infravermelho, aliada a ferramentas estatísticas e matemáticas. Esse conjunto permite calibrar e prever a presença de compostos interessantes sem necessidade de processos caros ou demorados.
Erva-mate, Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) e microalgas: potencial da biodiversidade regional
A erva-mate, símbolo cultural e econômico do sul do Brasil, é o primeiro foco de aplicação do projeto. Ampliar a qualidade da produção, reduzir custos de análise e valorizar o produto com comprovação científica de seus benefícios são caminhos que podem transformar a cadeia produtiva.
As chamadas PANC representam uma oportunidade emergente para a alimentação sustentável. São espécies rústicas, muitas vezes nativas, com alto valor nutricional, mas pouco exploradas comercialmente. A Univates já vem mapeando espécies presentes no Vale do Taquari e, com o Biovales, pretende quantificar seus compostos bioativos, abrindo espaço para novos mercados e produtos inovadores.
Consideradas o superalimento do futuro, as microalgas reúnem proteínas, lipídios, fibras, vitaminas e minerais em alta concentração. São também a fonte mais rica de carotenoides naturais, pigmentos com propriedades antioxidantes.
Desafios globais e soluções regionais
A pesquisa responde a uma questão importante: a produção de alimentos no modelo atual está associada a mudanças climáticas, à perda de biodiversidade e ao consumo excessivo de água e energia. Por isso, novas alternativas precisam ser desenvolvidas.
Valorizando as fontes vegetais locais, como a erva-mate, as PANCs e as microalgas, o Biovales se conecta a tendências globais de consumo sustentável e saudável. Além disso, reforça a importância da economia circular e do desenvolvimento regional, ao transformar a biodiversidade em oportunidade de renda e inovação.
Difusão do conhecimento e próximos passos
Os resultados do Biovales não ficarão restritos aos laboratórios. Os parceiros envolvidos já ofertaram palestras, minicursos e atividades de extensão ao longo desses dois anos, ampliando a difusão do conhecimento para produtores, estudantes, empreendedores e gestores públicos com os resultados já obtidos até o momento.
Até o final deste ano, pretende-se ter as modelagens prontas para análises de betacaroteno, luteína e ácido clorogênico para erva mate e algas usando a espectrometria de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) acoplada a sistemas quimiométricos. Uma vez prontos, as análises serão mais rápidas e práticas e com valores relativamente mais baratos do que as técnicas convencionais.
Além disso, uma vez validada, a metodologia desenvolvida poderá ser aplicada em outras matérias-primas vegetais, abrangendo diferentes regiões do Rio Grande do Sul e até mesmo de outros países.
