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Professora da Univates retorna do Timor-Leste e conta experiências do ano

Postado em 03/01/2013 10h50min

Por Tuane Eggers

Durante o ano de 2012, a professora da Univates Shirlei Inês Mendes da Silva, do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas, foi selecionada para lecionar na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL). A docente foi contratada para atuar na faculdade de Ciências Sociais, no curso de Ciência Política. Ela retornou para o Brasil no mês de dezembro e compartilha algumas de suas experiências deste período.

O objetivo da seleção de professores brasileiros e portugueses para a ilha do sudeste asiático foi impulsionar o uso da língua portuguesa na UNTL. Timor-Leste foi colônia de Portugal até 1975 e, depois da invasão indonésia, durante 24 anos, a língua portuguesa foi proibida pelo regime ditatorial do General Suharto. “A maioria dos jovens não fala o português, e sim o bahasa indonésio ou o tétum, uma das línguas oficiais do país”, explica.

Conforme a professora, o conhecimento de outras realidades e a aproximação com diferentes universos culturais são sempre um objeto de interesse científico para a área de Ciências Sociais. “A viagem para Timor-Leste gerou uma expectativa enorme, afinal eu iria encontrar as pessoas que lutaram pela democratização do país, que estiveram na luta clandestina, que pensaram o Timor atual. Tudo isso passava pelo meu imaginário antes de chegar”, conta. De fato, ela conheceu muitas pessoas que lutaram na guerra, inclusive seus colegas docentes na UNTL.

Segundo Shirlei, a guerra deixou muitas marcas, visíveis e invisíveis. “Assim que cheguei e comecei a conversar com as pessoas aprendi que, em Timor-Leste, a guerra atingiu todas as famílias e as histórias de horror vinham de todos os lados”, lamenta. Aos poucos, um outro país foi se revelando e outras histórias foram aparecendo.

Para a professora, a experiência de conhecer o país foi única, pois trata-se de uma metade da ilha (a outra metade pertence à Indonésia) com uma população majoritariamente aborígene, um país destruído pela guerra, um povo sofrido. “Dos muitos momentos especiais, destaco a primeira vez que ouvi o hino nacional de Timor-Leste ou quando fui visitar a antiga prisão de Balide, atual Memorial da Comissão da Verdade. Ou, ainda, quando meus alunos timorenses fizeram uma festa surpresa na nossa despedida”, lembra.

Shirlei explica que essas são apenas algumas lembranças de um convívio com pessoas que pensam e vivem com outra lógica, que respeitam as tradições locais e cultuam seus ancestrais de forma solene, que ritualizam estes cultos em forma de festas constantes. “Enfim, penso que o Timor é um país onde a tradição e a modernidade se encontraram e ambas disputam um espaço no imaginário social”, destaca.

Outro momento marcante da experiência foi o impacto da chegada ao país: um enorme calor, uma cidade “remendada”, o comércio a céu aberto, vendedores ambulantes, porcos e galinhas por todos os lados. Já na UNTL, chamou atenção a ausência de uma biblioteca em português, infraestrutura precária, alunos que não falavam português. “Tudo isso foi se modificando aos poucos. O exótico foi se tornando familiar, a carência estrutural durante as aulas foi se transformando no empoderamento dos alunos. Creio que este foi meu maior aprendizado: mudar o foco, olhar as coisas sob outra perspectiva”, ressalta.

Sobre a possibilidade de continuar colaborando com o ensino do Timor-Leste, Shirlei afirma que a relação entre os docentes timorenses e brasileiros foi muito positiva, apesar das dificuldades iniciais do projeto. “Com a internet, podemos desenvolver atividades conjuntas mesmo à distância. As portas estão abertas, é preciso planejar e verificar as possibilidades de parceria com os docentes timorenses”, completa.

 

Texto: Tuane Eggers

Shirlei Mendes da Silva

 Alunos timorenses da professora Shirlei Mendes da Silva

Shirlei Mendes da Silva

Professora Shirlei Mendes da Silva lecionou no curso de Ciência Política, em Timor-Leste

Divulgação

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