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Palestra aborda manifestações sociais sob olhares da filosofia, história e psicologia

Postado em 27/09/2013 21h46min

Por Tuane Eggers

Na noite desta sexta-feira, dia 27, a Univates realizou a palestra “Manifestações de Rua e Redes Sociais”, ministrada pelo filósofo e escritor português Desidério Murcho e pelo historiador e psicólogo Felipe Pimentel. O evento buscou debater os protestos de rua realizados no Brasil no último mês de junho sob diferentes olhares.

No início do evento, a diretora do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas da Univates, professora Fernanda Brod, deu boas vindas aos presentes e falou sobre a importância do grupo de professores da área de Humanidades. “Se puder resumir uma função essencial desse grupo é a de desacomodar. E o papel da universidade é sair do lugar comum, é discutir os assuntos sob uma ótica diferente daquela que nos é apresentada pela mídia e pelo senso comum”, ressaltou.

Em seguida, o mediador da conversa, professor Gabriel Goldmeier, apresentou os palestrantes e falou sobre a honra de dividir a mesa com eles. No início de sua fala, o filósofo Desidério Murcho disse que gostaria que os participantes questionassem suas colocações. “O papel mais difícil de um professor é fazer os alunos pensarem por conta própria”, lembrando da sua experiência como docente.

Conforme ele, a filosofia é algo que merece muito respeito e amor. “Não é isso que ensinam em muitas escolas”, acrescentando que pensou em desistir de sua trajetória escolar quando tinha 15 anos, e que a disciplina que menos gostava era justamente a filosofia. Murcho contou sua trajetória e falou sobre seu site “Crítica na Rede”.

O filósofo propôs aos participantes um exercício sobre justiça econômica a partir do caso de duas escritoras com situações econômicas diferentes que resultaram de um mesmo contexto social. “Nós temos que distinguir cuidadosamente sobre o dever de fazer algo e sobre a virtuosidade de fazer algo. Costumamos pensar que quem tem o dever de fazer algo e não faz é imoral, mas quem não tem o dever de fazer algo e faz se torna virtuoso ao fazer aquilo”, refletiu.

A partir do exercício, Murcho propôs aos participantes que refletissem sobre igualdade social e distribuição de renda. Segundo ele, há muitas particularidades que fazem mudar os conceitos das pessoas sobre as situações que exigem reflexão sobre justiça. Mesmo quando analisamos exemplos simplificados, não é fácil perceber o que é justo e o que é injusto. “Costumamos dizer em filosofia: qual é a diferença que faz a diferença?”, provocou.

Quando abordou as manifestações que ocorreram no Brasil, o filósofo citou as diversas reivindicações da ocasião, como as melhorias no transporte e na edução e os problemas de corrupção. “Se o caso das escritoras já era complexo, o que dizer de um grupo de pessoas que se reúne para reivindicar pelo transporte?”, acrescentando muitas particularidades que influenciam neste processo. “Não há nenhuma justiça possível, porque o sistema já é viciado desde o início. A única solução parece ser começar todo o sistema novamente”, sugeriu ele.

Em seguida, o filósofo disse que, por um lado, quando concebemos a sociedade como um lugar em que as pessoas reivindicam por seus interesses, o resultado sempre será justo. “Quando cada pessoa está lutando apenas por seus interesses, temos uma concepção de justiça de dar às pessoas o direito de lutar publicamente. O que pergunto é se essa maneira de organizar a sociedade, é a única maneira”, salientou Murcho, antes de propôr um novo exercício de racionalidade sobre a distribuição de renda a partir do mesmo caso das escritoras.

Após a fala de Desidério Murcho, o historiador e psicólogo Felipe Pimentel iniciou suas considerações, ressaltando que o título de sua fala seria “Cada família é uma república”, fazendo referência a um trecho do escritor Padre Vieira. “Uma das fundamentais coisas que temos a pensar é se existe um pensamento político sobre o Brasil. Muitos autores tentaram compreender o que é a sociedade brasileira e o que é a política brasileira”, comentou.

Segundo ele, ao falar sobre a história do Brasil e sua exploração pelos países europeus, nada pode ser mais orgânico e contar com a participação das pessoas do que a formação de uma cidade. “Porém, há lugares em que isso não aconteceu de forma orgânica e participativa. Bem-vindos a esse lugar: o Brasil”, disse ele, acrescentando que no país as cidades foram criadas de forma hierárquica.

Pimentel sugeriu, baseado em um teórico da área, que essa formação hierárquica das cidades teria gerado nos brasileiros uma incapacidade para a solidariedade social. “É uma sociedade que não se monta por si, mas pelo governo, o que gerou uma dificuldade de articulação nas pessoas”, complementou.

A atividade foi organizada pela área de Humanidades da Univates, vinculada ao Centro de Ciências Humanas e Jurídicas. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (51) 3714-7000, ramal 5508.


 

Texto: Tuane Eggers

O mediador da conversa, professor Gabriel Goldmeier, apresentou os palestrantes e falou sobre a honra de dividir a mesa com eles

Tuane Eggers

O filósofo e escritor português Desidério Murcho foi um dos palestrantes

Tuane Eggers

Tuane Eggers

O filósofo e escritor português Desidério Murcho foi um dos palestrantes

Tuane Eggers

O historiador e psicólogo Felipe Pimentel foi um dos ministrantes da palestra

Tuane Eggers

A diretora do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas da Univates, professora Fernanda Brod, deu boas vindas aos presentes e falou sobre a importância do grupo de professores da área de Humanidades

Tuane Eggers

O historiador e psicólogo Felipe Pimentel foi um dos ministrantes da palestra

Tuane Eggers

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