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Memória e resquícios da ditadura militar são tema de palestra

Postado em 08/09/2014 22h12min

Por Tuane Eggers

A memória e os vestígios da ditadura militar brasileira foram tema de evento realizado na noite desta segunda-feira, dia 8, na Univates. A palestra intitulada “50 anos do Golpe Militar: transição, memória, verdade e justiça” foi ministrada pelo psicanalista e doutor em Filosofia Luciano Mattuella e pelo professor de Direito e doutor em Altos Estudos Augusto Jobim do Amaral, com mediação do professor doutor Moysés Pinto Neto.

Na abertura do evento, o coordenador da área de Humanidades da Univates, professor Daniel Granada, agradeceu a presença de todos e falou sobre a importância de repensar a história e os erros do passado para que não sejam repetidos. Em seguida, o professor Moysés Pinto Neto explicou que a ideia do evento surgiu com a forte data alusiva. “Também surgiram diversas Comissões da Verdade para refletir acerca do passado e compreender o que teve de mais nefasto nessa história”, destacou o professor, parabenizando a Univates pela abertura do espaço para refletir sobre o tema.

O psicanalista Luciano Mattuella iniciou sua fala dizendo que “se ainda há o que falar sobre a ditadura, é porque ela ainda vive em nós”. Ao lembrar de uma história que seu pai contava, de que na época da escola não se podia confiar em nenhum dos colegas, pois poderiam ser delatores, Mattuella afirmou que a ditadura militar teve forte relação com a ruptura dos laços sociais.

Explicando a relação da psicanálise com a ditadura, o palestrante mencionou o fato da psicanalista Maria Rita Kehl integrar a Comissão da Verdade e ter ficado responsável pela abertura dos arquivos. “Falar sobre a memória do Brasil e falar sobre a ditadura é poder falar justamente dessas falas que ficaram soterradas”, disse Mattuella.

De acordo ele, falar sobre a ditadura é um compromisso, já que quem não vivenciou a época em si, provavelmente é filho dela. “Falo aqui desde a posição de um filho da ditadura e tudo o que isso implica”, salientou Mattuella. Citando um programa de rádio que perguntou aos ouvintes sobre a forma com que os detentos deveriam ser tratados, o psicanalista afirmou que um país que se pergunta se alguém pode ser destituído de sua dignidade é estar legitimando que isso aconteça.

Segundo o palestrante, a polícia brasileira atual mata mais do que a ditadura militar. Ele pediu ao público que esse dado fosse tomado como um sintoma de uma questão estrutural do país. Mencionando teorias da psicanálise, Mattuella afirmou que aquilo que não pode ser lembrado acaba se repetindo. “Há uma relação muito estranha entre sofrimento e esquecimento. Por mais que seja uma lógica boba, foi o que aconteceu com a ditadura militar durante os últimos 50 anos”, alertou.

Durante sua fala, o palestrante fez uma breve analogia com memórias pessoais de infância. “Imaginem se vocês tentassem lembrar da infância e não conseguissem lembrar de nada. É isso o que acontece com a memória do Brasil”, exemplificou Mattuella, acrescentando que o acesso aos arquivos do país ainda é restrito.

Conforme o psicanalista, a ditadura militar acabou no papel. No entanto, acabou apenas a fase aguda. “Agora, vivemos a fase cronificada. O que quero dizer com isso é que o passado, de certa forma, contamina o presente. Um passado do qual não se fala contamina o presente de um jeito muito cruel, pois impossibilita projeções de futuro”, explanou Mattuella.

Para o palestrante, é necessário refletir sobre a naturalização da violência causada pela ditadura militar. “Vivemos em um país que tem um lado B, onde estão todos os mortos, todos os desaparecidos, todos os nossos pais e familiares que viveram a ditadura. E ele está esquecido, mas não está não-atuante. Ele está em quem está sendo torturado agora, está em muitos lugares”, refletiu Mattuella, acrescentando que a ditadura militar continua fantasiada de muitas formas.

O professor doutor Augusto Jobim do Amaral complementou o pensamento de Mattuella, questionando o público sobre como nós operamos a ditadura. “Se há algum tipo de pergunta que a ditadura deixa atualmente é essa: é como nós fazemos a ditadura operar todos os dias. Nós adestramos os dados e naturalizamos a violência o tempo inteiro. Se há algo democrático é esse nosso fascismo”, criticou Amaral.

Ao trazer dados de pesquisas sobre torturas no país, o palestrante disse que cerca de 80% da população afirma sentir medo de ser torturada. No entanto, 30% dessas pessoas considera a tortura um ato legítimo. “Há um caldo cultural autoritário que ficou da ditadura. É aceitável a tortura porque é sempre o outro, né?”, questionou ele.

Amaral constatou, ainda, que a ditadura se mede pelas violências cotidianas e traumas sociais que ficaram daquela época. Conforme o professor, entre 2001 e 2012, cerca de 21.400 pessoas morreram no Brasil por confrontos diretos com a polícia. Citando diversos tipos de violências cotidianas, como racismo, homofobia e violência contra índios, ele acrescentou que todas elas são resquícios da época. “Se a gente não entender que isso se trata da mesma coisa, talvez a gente não avance muito”, complementou.

 

 

Texto: Tuane Eggers

Palestra foi ministrada por Luciano Mattuella e Augusto Jobim do Amaral, com mediação do professor Moysés Pinto Neto

Tuane Eggers

Palestra foi ministrada por Luciano Mattuella e Augusto Jobim do Amaral, com mediação do professor Moysés Pinto Neto

Tuane Eggers

Palestra foi ministrada por Luciano Mattuella e Augusto Jobim do Amaral, com mediação do professor Moysés Pinto Neto

Tuane Eggers

Palestra foi ministrada por Luciano Mattuella e Augusto Jobim do Amaral, com mediação do professor Moysés Pinto Neto

Tuane Eggers

Palestra foi ministrada por Luciano Mattuella e Augusto Jobim do Amaral, com mediação do professor Moysés Pinto Neto

Tuane Eggers

Palestra foi ministrada por Luciano Mattuella e Augusto Jobim do Amaral, com mediação do professor Moysés Pinto Neto

Tuane Eggers

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