Até o século XVI, o surdo era classificado e identificado como marginalizado e anormal, geralmente sendo preso e escondido em casa pela família, que se envergonhava de mostrar para a sociedade que havia uma pessoa surda em seu meio.
Nesse período, o surdo era denominado e visto apenas como deficiente auditivo. Os surdos eram considerados pelas famílias como um castigo de Deus e, para a sociedade, eram improdutivos e, por isso, inúteis. Thoma (2006, p. 11) afirma que “[...] os filhos defeituosos de tais famílias eram retirados da visão pública pela vergonha que causavam, pois eram considerados resultados das depravações ou pecados cometidos por seus pais”.
Os surdos são sujeitos que interagem com o mundo, principalmente a partir de uma experiência visual, e grande parte de suas construções mentais são mediadas pela sua língua materna: a língua de sinais.
Penso sujeitos surdos que, no encontro com sua potência, são capazes de substituir os discursos de negação pelos das sensações. Discursos que não estão dados, mas são criados, na ordem do vivido, do vivenciado, do experimentado e do sensível.
Vidas mapeadas pelo singular, pelo heterogêneo, não por homogeneidade, categorias ou igualdade. Sujeitos que se movimentam, mãos que não param, sujeitos que experimentam a vida na sua singularidade. Ao findar os encontros com os caminhantes surdos, foi possível perceber que existe um apego ao que é concreto, ao que é palpável e representável. Também percebi o quanto a abstração é para os mesmos algo um pouco distante de suas vidas, entendível em virtude da sua relação visual com o mundo e também pela sua linguagem.