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Há futuros: possibilidades para a educação superior no Brasil

Postado as 08/03/2023 12:54:44

Por Fernanda Storck Pinheiro

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A professora Fernanda Storck Pinheiro, vice-reitora e pró-reitora de Ensino da Universidade do Vale do Taquari - Univates, reflete sobre o futuro e as possibilidades do ensino superior no Brasil. 

Há futuros: possibilidades para a educação superior no Brasil

Por Fernanda Storck Pinheiro, vice-reitora e pró-reitora de Ensino da Univates 

Se há algo que o ensino superior tem refletido nos últimos tempos é sobre o próprio futuro. Penso que não há faculdade, universidade ou curso superior no mundo que não tenha questionado o próprio fazer diante do turbilhão de novidades tecnológicas, movimentos econômicos, pandêmicos e sociais que transcorrem de modo cada vez mais urgente e presente nos diversos pontos do globo, especialmente neste início de século. Possivelmente, como dizem os especialistas, este é o período de maior transformação da história da educação. No Brasil não é diferente. E, por isso, pensar o futuro do ensino superior no país já faz parte das reflexões de quem trabalha, vive e opera nesse universo.

Exercícios de futurologia são perigosos, porque o inesperado nos aguarda ao dobrar a esquina. Afinal, quem contava com uma pandemia no início de 2020, que gerou um verdadeiro fluxo para o ensino on-line? Quem sabe quando virá a próxima crise econômica? Qual será a próxima rede social? Pensar o futuro nos convoca a olhar o passado e vasculhar nossas fragilidades, pontos que, a meu ver, podem ser embriões daquilo que não pensamos ainda. É nos pontos cegos que podem residir as potencialidades da educação superior do porvir.

Em 2022 a Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura publicou o relatório intitulado Reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação. Nele, educadores de diferentes partes do mundo, e a partir de consultas com mais de um milhão de pessoas, propõem um novo contrato social para a educação, em seus diferentes níveis, pensando em seu papel vital para enfrentar desafios assustadores, tais como a crise climática, as desigualdades globais e o esvaziamento de espaços públicos e de participação coletiva. Em especial, são examinados, naquele documento, os  futuros das seguintes questões temáticas relevantes: sustentabilidade; conhecimento;  aprendizagem;  professores o ensino; trabalho, habilidades e competências;  cidadania; democracia e inclusão social; educação pública; e ensino superior, pesquisa e inovação. 

Um desafio específico é lançado para as universidades e outras instituições de ensino superior: adotar um papel ativo em todos os aspectos da construção de um novo contrato social para a educação. Desde apoiar a pesquisa e o avanço da ciência até contribuir com outras instituições e programas educacionais em suas comunidades e em âmbito mundial. Em suma, o que se espera são instituições de ensino criativas, inovadoras e comprometidas com o fortalecimento da educação como um bem comum. 

É claro que nesse cenário os governos e as políticas públicas têm papel fundamental. Esse é um horizonte que não se pode perder. No Brasil, em que, segundo a Unicef, em 2021 11% das crianças e adolescentes entre 11 e 19 anos estavam fora da escola e onde, segundo a OCDE, apenas 21% dos brasileiros possuem ensino superior, onde também o maior número de ingressantes nesse nível de ensino em 2021 se deu na modalidade a distância (conforme Censo da Educação Superior), os desafios não são pequenos. Matrícula e permanência são fundamentais para que essa trajetória de estudos possa ser percorrida integralmente pelos estudantes. E, uma vez acessado o ensino superior, é importante que ele se apresente como um horizonte pleno de sentidos para o estudante. Este é um compromisso de governos, instituições de ensino e sociedade civil.

Cientes disso, é possível às instituições de ensino superior fazer algumas escolhas nos seus modos e maneiras de ensinar. Para isso, e sem a pretensão de esgotar as possibilidades, algumas experiências que, quiçá, possam resgatar em parte alguns pontos cegos das últimas décadas seriam: deslocar as pessoas de seus ambientes tradicionais de aprendizagem; adotar uma visão transversal do ensino, compreendendo que o saber não existe apenas e necessariamente em um movimento linear ou no ambiente formal; instaurar situações de aprendizagem a partir de desafios reais e locais; trazer os professores ao centro da formação de professores; reconhecer que o conhecimento não existe fora da ação e do movimento; integrar o conhecimento coletivo ao patrimônio das profissões; compreender que habitamos tanto territórios físicos como virtuais e que ambos são espaços que convocam estratégias de aprendizagem, de estudo e de convivência; pensar currículos mais flexíveis diante das necessidades dos locais de trabalho do século XXI, levando em consideração a natureza mutável do trabalho e as diferentes formas pelas quais a segurança econômica pode ser suprida; em suma, compreender a educação como um bem comum e como um direito que pode ser exercido ao longo de toda a vida. 

A meu ver, no Brasil de 2023, um novo contrato social para a educação superior passa por financiamento público, por redução das desigualdades de acesso e permanência, por valorização do ofício docente, assim como da carreira de pesquisadores e pesquisadoras, mas passa também pela capacidade de transformação das instituições de ensino que, para além das métricas e desempenhos, também deem conta da sintonia fina do ensinar e do aprender. Diante disso, pode o ensino superior assumir o protagonismo de um espaço público de estudo, aprendizagem, pesquisa e inovação, para que, então, se possa vislumbrar que sim, há futuros possíveis para a educação e eles podem ser compartilhados.

O conteúdo e as opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade de seu autor. 

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