Alice perguntou: Gato Cheshire... pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar?
Isso depende muito do lugar para onde você quer ir disse o Gato.
Eu não sei para onde ir! disse Alice.
Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.
(Alice no País das Maravilhas) - Lewis Carroll
É inegável que viver sob constante pressão de metas e cobranças não é saudável. No entanto, há um perigo silencioso em aceitar o comodismo como padrão. Encontrar equilíbrio entre desejos, necessidades e possibilidades exige autoconhecimento, um processo fundamental para não se perder em meio às exigências do caminho. Esse equilíbrio, embora almejado, tem-se tornado cada vez mais desafiador de ser alcançado.
Em diversas esferas, a era da informação tem-se revelado menos segura devido ao avanço e à facilidade de manipulação e compartilhamento de notícias falsas, à idealização irracional de padrões, estilos de vida e aparência estética, amplificados pelas redes sociais.
Nesse movimento intenso, há extremos de toda sorte, mas também há uma massa que, em certa medida, se encontra paralisada e, em outra, conscientemente opta por ter na mediocridade o seu ponto de referência. Isto é, o objetivo máximo é justamente estar na média em todos os âmbitos da vida: uma espécie de zona de conforto em termos de exigências, e também de resultados.
Por exemplo, se a média no curso é 6, essa é a nota buscada. No trabalho, cumprem-se apenas as exigências mínimas para evitar a demissão. Em outras áreas da vida, padrões semelhantes se manifestam: nos relacionamentos, aceitamos a mediocridade ao evitar conversas difíceis ou deixar conflitos se acumularem; na saúde, ignoramos o cuidado preventivo e nos conformamos com hábitos que apenas evitam o pior; ou nas finanças, quando não planejamos um futuro mais seguro e vivemos no limite do possível. Esses padrões refletem escolhas que limitam nosso crescimento e bem-estar.
Há algum problema nisso? À primeira vista, pode parecer inofensivo. Alguém poderia argumentar que o importante é estar confortável consigo mesmo e em paz com a própria vida. Nosso objetivo hoje não é confrontar as perspectivas de nenhum leitor, apenas convidar à reflexão: estou realmente confortável ou apenas tornei a mediocridade um hábito?
A mediocridade pode parecer confortável no curto prazo, mas frequentemente leva a uma insatisfação silenciosa a longo prazo, especialmente quando percebemos que oportunidades foram perdidas ou que nossos potenciais foram subutilizados; por outro lado, é importante reconhecer que, em certos momentos, buscar o suficiente pode ser uma escolha válida, dependendo das prioridades e circunstâncias de cada um.
O tenista Carlos Alcaraz, vencedor da edição 2024 do torneio de Roland Garros aos 21 anos, após uma vitória difícil na semifinal contra Jannik Sinner, afirmou em seu discurso: Você tem que achar prazer no sofrimento. Acho que é a chave. É preciso lutar, sofrer, mas eu falei para o time que devo aproveitar isso. Assim como no esporte de alta performance, onde sacrifícios e comprometimento são indispensáveis para alcançar grandes conquistas, na vida cotidiana também precisamos lidar com escolhas difíceis e esforços contínuos para atingir nossos objetivos e superar nossos limites.
Não se trata de romantizar o sofrimento ou estabelecer uma correlação direta entre sofrimento e sucesso, mas de lembrar que, assim como a busca pela mediocridade pode tornar-se um hábito, a busca pela excelência também o é. Esta última envolve escolhas, consequências e renúncias. Encontrar prazer na jornada que você decidiu trilhar significa compreender que o sofrimento faz parte dela. A fala do tenista ilustra bem esse processo: a busca pela excelência também é um hábito. Por ser um hábito, toda a sua rotina é moldada para agir de acordo com essa perspectiva, e o sofrimento que dela deriva é absorvido como parte do caminho. Não será fácil assim como administrar as consequências da escolha pela mediocridade também não é.
O ponto que desejamos destacar é que a mediocridade envolve sofrimento, se não tanto na jornada, certamente nos resultados. Podemos permanecer protegidos de decepções pela segurança da zona de conforto; por outro lado, a falta de ambição e de esforço para o aprimoramento pode nos limitar. Acredite, grandes resultados e jornadas demandam grande comprometimento e renúncias. Afinal, como disse o gato à Alice: Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve. Para quem preferir, sob outro ponto de vista, Santa Teresa de Ávila lembrou que é justo que muito custe o que muito vale. Agora é sua vez de refletir: quais são os resultados que você almeja e se a mediocridade é capaz de levá-lo até lá.
Escolher entre a mediocridade e a excelência é algo que fazemos diariamente, seja nas pequenas ou grandes decisões. Não se trata de ser perfeito, mas de dar o melhor de si em tudo que importa para você. A mediocridade talvez ofereça conforto, mas nunca levará você além do que já conhece. A excelência, por outro lado, é uma jornada desafiadora, mas repleta de crescimento e significado.