Coordenação: Neli Teresinha Galarce Machado
Pesquisadores:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
A influência dos estudos arqueológicos e históricos com abordagens ambientais e culturais é amplamente aceita e conhecida pela comunidade científica. Os estudos regionais têm tomado potência na última década do século XXI e os estudos arqueohistóricos e ambientais têm estado, ainda em crescimento, presente na construção das historicidades multiculturais nacionais. Nesse sentido, objetiva-se estudar os grupos indígenas pré-coloniais, Jê e Guarani, que colonizaram determinadas áreas drenadas pela Bacia Hidrográfica do Rio Taquari/Antas, no Rio Grande do Sul, permanecendo e interagindo com o ambiente por alguns séculos. O objetivo da presente proposta científica é estabelecer uma pesquisa de compreensão contextual das ocupações antigas humanas pré-coloniais e colonial na região banhada pela bacia hidrográfica dos rios Taquari e Antas, no Rio Grande do Sul, bem como as relações de contato que se estabeleceram entre eles, identificando as relações (manejo, modificação e uso) que essas populações mantiveram com o ambiente ocupado na referida Bacia. Como mérito científico, temos os pressupostos teóricos e conceituais da Arqueologia, da Arqueologia Regional e da História Ambiental. Na originalidade o foco será as áreas com sítios arqueológicos e a partir daí as abordagens se concentram na pesquisa de caráter histórico e arqueológico para a construção de um cenário histórico e ambiental na região. Como resultado, espera-se estabelecer o período, a mobilidade e tempo de permanência nos assentamentos, dessas sociedades. O objetivo da solicitação para essa proposta é dar continuidade às pesquisas no que se refere à arqueologia regional, campo importante para a ciência brasileira e para o cenário da história mais antiga do Brasil. A integração dos dados advindos do desenvolvimento da proposta produzirá resultados significativos e de abrangência internacional, servindo de suporte para interpretações globais acerca da história de antigas civilizações.
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Esta proposta é de complementação ao projeto aprovado pelo CNPq em 2021 (Processo: 408657/2021-9), projeto que, apesar da sua aprovação, recebeu um valor bem abaixo do sugerido. Dessa forma, a presente proposta visa a continuidade, a qualificação e o avanço nas análises do projeto anterior. Este estudo realizará a reconstrução paleoclimática dos últimos ~3000 anos na bacia hidrográfica do Guaíba, relacionando os resultados ao processo de povoamento de populações horticultoras durante o Holoceno Tardio (populações Guarani e Jê Meridionais). A pesquisa busca compreender como era o clima antes da chegada dessas populações, e como evoluiu após o seu estabelecimento. Os dados permitirão avaliar se condições ambientais foram decisivas para a colonização mais intensa da área. A área delimitada para este estudo se localiza na porção central e nordeste do Rio Grande do Sul, abrangendo nove bacias hidrográficas: Alto Jacuí, Pardo, Vacacaí, Baixo Jacuí, Taquari-Antas, Caí, Sinos, Gravataí e Lago Guaíba. Nessa região, os últimos ~2000 anos foram marcados pela intensificação dos fluxos migratórios: os Jê, que se expandiram desde o Brasil central, e logo os Guarani, procedentes da Amazônia. Cruzando dados palinológicos e dados arqueológicos, pretende-se apresentar indicadores para se compreender: 1) as mudanças climáticas ocorridas nos últimos ~3000 anos; 2) a relação entre as mudanças climáticas e as dinâmicas populacionais; 3) a dinâmica espaço-temporal da ocupação humana da região. Para discutir a evolução climática regional serão obtidos testemunhos sedimentares para análises palinológicas. Também será realizado levantamento botânico e de amostras superficiais para chuva polínica em áreas chave, permitindo associar o espectro palinológico com tipos específicos de vegetação para se gerar um modelo atual das variações do passado a partir do registro palinológico. Para compreender a cronologia do povoamento regional, será realizado levantamento dos sítios arqueológicos de ambas populações incorporando, primeiro, datações radiocarbônicas disponíveis na bibliografia e, segundo, incorporando novas datas a serem obtidas em sítios-chave. Estes podem já estar escavados e, portanto, apresentar coleções disponíveis para amostras datáveis, ou também poderão ser obtidas a partir de amostragens em novos sítios, visando completar o panorama da distribuição espaço-temporal destas populações. Esta proposta que agora recebe alterações, também foi enviada à Chamada Pro-Humanidades 2022. A proposta encaminhada foi “Parte II - Mudanças climáticas, paisagens e povoamento da bacia hidrográfica do Guaíba durante o Holoceno Final”. Cabe destacar que o projeto CNPq aprovado em 2021, citado como o elo de continuidade com este pedido, recebeu menos de 10% do valor solicitado para a realização da proposta. Assim, mesmo com a sua aprovação, não foi possível realizar etapas importantes do projeto, em especial, aquelas referentes a saídas de campo e datações, uma vez que essas atividades demandam recursos financeiros. Por isso, ressaltamos que, no momento, é importante a aprovação da presente proposta nesse edital do Universal pois garantirá a execução plena de todas as etapas do projeto. Destacamos que a área de estudo abarca a Bacia do Rio Guaíba o que, consequentemente, envolve 9 sub-bacias hidrográficas: Alto Jacuí, Pardo, Vacacaí, Baixo Jacuí, Taquari-Antas, Caí, Sinos, Gravataí e Lago Guaíba. As novas datas serão obtidas em sítios-chave localizados em áreas com deficiências cronológicas, isto é, o Alto Jacuí, Pardo, Vacacaí, Baixo Jacuí, Caí, Sinos, Gravataí e Lago Guaíba. No Taquari-Antas, onde existe a área chamada de Vale do Taquari, não serão realizadas novas datas, uma vez que essa região é muito bem datada para o Holoceno Tardio. A escolha dos melhores locais para a datação (os sítios-chave), nas áreas citadas como deficientes em cronologia, será realizada progressivamente, com o avanço do projeto. Além disso, cabe destacar que a proposta envolve uma área de abrangência regional que apresenta potencialidade para as análises palinológicas. Nossa proposta possui originalidade e relevância científica para o campo da arqueologia, mais precisamente para a arqueologia indígena praticada na região Sul do país e refere-se à continuidade de uma pesquisa outrora aprovada em edital do CNPq. Reitera-se a qualidade da produção da coordenadora e destacamos que a mesma, assim como parte da equipe advém de uma área, Ciências Humanas, onde a produção é medida pelo impacto social e pela regionalização. Na área das Humanas fatores como pertinência do conhecimento, difusão, comunicação e temas sociais são potentes e a proponente assim como a equipe demonstram esses fatores em suas produções intelectuais. Destacamos que o tema da proposta é de caráter regional com altas possibilidades de estruturação de modelos locais e regionais. Entendemos que a arqueologia regional está avançada com correntes epistemológicas contemporâneas na América Latina.
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Este estudo realizará a reconstrução paleoclimática dos últimos ~3000 anos na bacia hidrográfica do Guaíba relacionando os resultados ao processo de povoamento de populações horticultoras durante o Holoceno tardio (populações Guarani e Jê Meridionais). A pesquisa buscará compreender como era o clima antes da chegada dessas populações, e como evoluiu após o seu estabelecimento. Os dados permitirão avaliar se condições ambientais foram decisivas para a colonização da área. A área delimitada se localiza na porção central e nordeste do Rio Grande do Sul, abrangendo 9 bacias hidrográficas: Alto Jacuí; Pardo; Vacacaí; Baixo Jacuí; Taquari-Antas; Caí; Sinos; Gravataí e Lago Guaíba. Nessa região, os últimos ~2000 anos foram marcados pela intensificação dos fluxos migratórios: os Jê, que se expandiram desde o Brasil central, e logo os Guarani, procedentes da Amazônia. Cruzando dados palinológicos com dados arqueológicos, pretende-se apresentar indicadores chave para se compreender: as mudanças climáticas ocorridas nos últimos ~3000 anos; a relação entre as mudanças climáticas e as dinâmicas populacionais; a dinâmica espaço-temporal da ocupação humana na região estudada. Para discutir a evolução paleoclimática regional serão obtidos testemunhos sedimentares para análises palinológicas. Também será realizado levantamento botânico e de amostras superficiais para chuva polínica em áreas chave, que permitam associar o espectro palinológico com tipos específicos de vegetação, gerando um modelo atual das variações do passado gravadas no registro palinológico. Para compreender a cronologia do povoamento regional, será realizado levantamento dos sítios arqueológicos de ambas populações, incorporando datações radiocarbônicas disponíveis na bibliografia e novas datas a serem obtidas em sítios-chave. Estes podem já estar escavados e, portanto, apresentar coleções disponíveis para amostras datáveis, ou também poderão ser obtidas em novos sítios.
O Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, passou por uma série de eventos climáticos extremos nos últimos anos, com impacto devastador para a região. A combinação do fenômeno El Niño com as mudanças climáticas globais intensificou as chuvas, resultando em três enchentes de magnitude histórica em setembro de 2023, novembro de 2023 e maio de 2024. A última cheia, ocorrida em maio, foi a mais catastrófica já registrada, trazendo um volume de precipitação superior a 1000 mm em poucos dias. Essa enchente não só resultou em perdas humanas trágicas e prejuízos à infraestrutura, mas também trouxe consequências significativas para o patrimônio arqueológico da área. A inundação de maio de 2024 atingiu profundamente os sítios arqueológicos localizados nas planícies dos rios Taquari-Antas e seus afluentes, áreas historicamente habitadas pelos povos Guarani. Os sítios, que guardam vestígios culturais e ambientais de longa data, foram expostos pela força das águas, revelando camadas arqueológicas que estavam anteriormente preservadas no subsolo. Entre os materiais expostos, encontram-se fragmentos cerâmicos, líticos, arqueofaunísticos e, em especial, urnas funerárias Guarani, que chamaram a atenção da população local, colocando em risco a integridade desses artefatos. Esses achados suscitaram uma resposta rápida das autoridades e da comunidade científica. Neli Teresinha Galarce Machado, coordenadora do Laboratório de Arqueologia da Univates, junto com Fernanda Schneider, submeteu um projeto emergencial ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em junho de 2024 para investigar e preservar os sítios afetados. O Laboratório de Arqueologia da Univates, que opera na região há 23 anos, desenvolveu pesquisas contínuas sobre a história pré-colonial do Vale do Taquari, acumulando um conhecimento robusto sobre os vestígios culturais das populações Guarani. O projeto submetido, diante do risco iminente de destruição dos sítios, foi rapidamente aprovado em julho de 2024, autorizando um período de dois anos para a realização das pesquisas. A primeira intervenção ocorreu no sítio RS-T-138, localizado no município de Roca Sales, evidenciado pela enchente de maio de 2024. O sítio apresentou características notáveis de preservação, mesmo após a inundação, com a descoberta de três enterramentos Guarani em urnas funerárias e dois enterramentos no solo, além de manchas de terra preta que indicavam áreas de ocupação humana. As escavações foram conduzidas por uma equipe interdisciplinar e binacional, composta por especialistas do Brasil e da Argentina. As etapas envolveram a decapagem de áreas amplas, mapeamento aéreo com drones e coletas controladas de amostras bioarqueológicas. Os primeiros resultados revelaram a presença de um padrão de aldeamento em formato de 'U', orientado para o nordeste, evidenciando práticas espaciais e simbólicas dos Guarani na organização de seus assentamentos. A quantidade e a diversidade de vestígios recuperados foram significativas, incluindo fragmentos cerâmicos, ferramentas líticas e restos arqueofaunísticos, que agora estão sendo higienizados, catalogados e preparados para análise no Laboratório de Arqueologia da Univates. O projeto aprovado pelo IPHAN tem como principais objetivos: 1) mapear novos sítios arqueológicos Guarani nos 12 municípios mais atingidos pelas enchentes, que incluem localidades como Lajeado, Muçum, Encantado e Roca Sales; 2) avaliar o estado de preservação dos sítios já registrados e cadastrados junto ao IPHAN; 3) realizar o salvamento de sítios em alto risco de destruição e 4) promover atividades de educação patrimonial com a comunidade local, a fim de sensibilizar sobre a importância do patrimônio arqueológico para a identidade regional. As enchentes trouxeram à tona não apenas a vulnerabilidade da região a desastres naturais, mas também a necessidade urgente de se proteger o patrimônio cultural que ali se encontra. Os vestígios arqueológicos expostos na superfície estão sujeitos a deterioração rápida devido à exposição ao clima e ao risco de coleta indevida por curiosos. A equipe do projeto tem enfrentado desafios financeiros para a execução completa das atividades, uma vez que o caráter emergencial da pesquisa não permitiu a captação prévia de recursos. Para garantir a continuidade das ações, foram propostas conexões com outros projetos de financiamento, visando cobrir os custos das etapas de escavação, mapeamento e análises laboratoriais especializadas, como as datações por Carbono-14. O mapeamento e registro sistemático das áreas inundadas são essenciais para identificar novos sítios e atualizar informações sobre os já existentes. O processo de prospecção arqueológica está sendo realizado tanto por terra quanto por via fluvial, com o apoio de moradores locais, que têm contribuído ativamente para a localização de áreas de interesse arqueológico. A presença de guias locais tem facilitado o acesso e permitido a coleta de informações valiosas sobre possíveis novos sítios. A Univates desempenha um papel central no desenvolvimento dessas pesquisas, sendo uma instituição comunitária que, mesmo diante de cortes em laboratórios de arqueologia em outras partes do país, mantém uma infraestrutura robusta e ativa. O Laboratório de Arqueologia da Univates conta com três salas de trabalho, reserva técnica para acondicionamento de materiais e uma série de equipamentos especializados, incluindo microscópios para análise de microvestígios. As ações de campo são apoiadas por veículos institucionais, e o trabalho de análise tem o suporte do Laboratório de Paleobotânica e Evolução de Biomas, também localizado na Univates. Além das escavações e análises materiais, o projeto dá grande ênfase às atividades de educação patrimonial, buscando envolver a comunidade local e as escolas da região. As ações educativas visam conscientizar sobre a importância da preservação do patrimônio arqueológico e compartilhar o conhecimento adquirido com a pesquisa, promovendo o entendimento e o respeito pela história indígena e pelo patrimônio cultural do Vale do Taquari. A proposta metodológica do projeto integra rigor científico com ações de preservação e engajamento comunitário. O mapeamento sistemático das planícies de inundação dos rios Taquari-Antas e seus afluentes abrange os 12 municípios mais afetados pelas enchentes. As atividades de campo envolvem prospecção arqueológica detalhada, coleta de vestígios expostos, avaliação de danos nos sítios e mapeamento georreferenciado das áreas afetadas. As escavações têm foco em sítios que apresentem alto risco de destruição, sendo conduzidas com metodologias rigorosas para garantir a preservação dos vestígios e a coleta de amostras representativas para análises multiproxy. As análises laboratoriais incluem a datação por Carbono-14 e estudos detalhados de artefatos líticos, cerâmicos e restos arqueofaunísticos, visando compreender os aspectos culturais, tecnológicos e ambientais das populações Guarani que habitaram a região. O trabalho desenvolvido até agora demonstra o enorme potencial científico do Vale do Taquari, com achados que prometem enriquecer a compreensão sobre o povoamento pré-colonial no sul do Brasil. O projeto busca, em última instância, mitigar a destruição do patrimônio arqueológico e garantir a sua preservação para as futuras gerações, reconhecendo o valor identitário desses vestígios para a memória coletiva das sociedades ancestrais da região. Em suma, o projeto emergencial no Vale do Taquari reflete um esforço coordenado de preservação e pesquisa, enfrentando desafios impostos por desastres naturais e pela falta de recursos. A resposta rápida e o trabalho interdisciplinar têm permitido avançar nas escavações e nas análises, ao mesmo tempo em que se promove a educação patrimonial. As expectativas são de que os resultados obtidos não apenas contribuam para o conhecimento científico, mas também fortaleçam o reconhecimento e a valorização do patrimônio arqueológico pela comunidade local e pelas instituições envolvidas.