Utilizamos cookies neste site. Alguns são utilizados para melhorar sua experiência, outros para propósitos estatísticos, ou, ainda, para avaliar a eficácia promocional do nosso site e para oferecer produtos e serviços relevantes por meio de anúncios personalizados. Para mais informações sobre os cookies utilizados, consulte nossa Política de Privacidade.

Ciência

Diário de bordo, viagem à Antártica, parte VI

Por Lucas George Wendt

Postado em 07/03/2025 11:15:06


Compartilhe

A estudante de mestrado Ândrea Pozzebon-Silva, do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates e o professor André Jasper embarcaram, no 27 de dezembro de 2024, para participar da XLIII OPERANTAR, a expedição científica brasileira à Antártica. Os dois retornam ao Brasil em meados de fevereiro de 2025. 

Essa é a primeira vez que Ândrea, que é licenciada em Ciências Biológicas pela Univates irá ao continente gelado, enquanto Jasper já participou em duas oportunidades anteriores - a OPERANTAR XII - no verão 1993/1994; e a OPERANTAR XLII - no verão 2023/2024. A participação da jovem pesquisadora marca, também, a primeira vez em que um estudante da Universidade acompanha uma expedição ao continente. 

Despedidas e retorno

17 de Fevereiro, fundeada em frente ao Puerto Mardones a bordo do NPo Almirante Maximiano H41, Punta Arenas, Chile. 

O Drake foi tranquilo novamente e sinto que tive sorte nas duas vezes que o atravessei. Durante a travessia, recordei dos livros de Amyr Klink que me acompanharam durante a expedição. Concordo com Amyr quanto a problemática da demonização ainda existente desses mares. São mares difíceis, grossos, e sim, um tanto perigosos. Mas as histórias de naufrágio e morte já quase inexistem devido às novas tecnologias de navegação empregadas nessas grandes viagens. Me senti segura, apesar de levemente enjoada. 

Passar novamente por um pequeno trecho do pacífico e depois pelos lindos canais chilenos e seus ventisqueiros me deixou um tanto nostálgica. A sensação presente foi que eu havia passado ali há muito, muito tempo atrás. Tão absorta naquele novo universo, nova rotina, novas pessoas, a vida no Brasil parecia uma realidade distante, ainda que a saudade dos que ficaram era algo recorrente. A descida para solo chileno demorou. Chegamos em frente ao Puerto Mardones e ali esperamos alguns dias até podermos pisar na terra novamente, devido a um problema de manobra de um cargueiro vizinho que estava atracado à nossa frente. Coisa esquisita pisar em solo depois de dias balançando. 

Apesar de amar estar no mar, são nessas ocasiões que me lembro que gosto de ser bicho terrestre. O vento no porto quase nos levava embora, de mochila e tudo. Passamos dois bons dias na cidade. Revi amigos, compartilhamos histórias, risadas, brindes, abraços… Aproveitei ao máximo o clima de Punta Arenas, sabendo que quando retornasse aos trópicos, uma grande onda de calor nos aguardava e a ideia de aclimatação parecia desafiadora. Logo o dia 20, dia de nosso vôo, chegou. Depois dos trâmites burocráticos de saída do Chile, a espera no aeroporto, pelo menos pra mim, foi prazerosa. 

Conversar, tomar café e aproveitar os últimos momentos com aqueles que, antes, eu nem conhecia e tornaram-se pessoas importantes foi muito gostoso. Logo vi um robusto avião pousar em frente às janelas onde estávamos, era nossa condução para casa. O KC 390 Millenium da Força Aérea Brasileira é uma aeronave-cargueira que possui capacidade para transportar até 26 toneladas de carga, incluindo veículos pesados, equipamentos e até mesmo cargas humanitárias, realizando transporte aéreo logístico, reabastecimento em voo, evacuação aeromédica, busca e salvamento, entre outras. Certamente voar no KC entrou no hall de experiências dessa expedição. 

Em nada, absolutamente nada, se parecia com um avião comercial. Cabos, canos, cordas, saídas de ar, pressurizadores, tudo exposto. Ver a anatomia de uma aeronave foi fascinante. A disposição dos assentos também era diferente. Sentamos em 4 grandes fileiras verticais ao longo do corpo do avião, de frente uns para os outros. Tirando um único evento de turbulência onde perdemos um tanto de altitude e me deixou com as pernas tremendo por alguns minutos, o voo foi tranquilo. Quatro horas depois, já estava sendo recepcionada no aeroporto de Pelotas por uma pequena comitiva de mosquitos que se alimentaram do que eu tinha de pele exposta. 

Ouvir sapos nas cercanias úmidas do aeroporto foi um evento. A gente sente falta de coisas que não fazemos ideia quando somos privados do nosso ambiente natural. A última noite com os amigos foi muito boa. Quem diria que sentiria tanta saudade! E no que se trata de saudade, nossa chegada a Lajeado ocorreu na sexta feira, 21, no início da tarde. Depois de organizar algumas coisas mais urgentes, corri para a Univates, para o Laboratório, minha casa. Abracei longamente cada um dos meus colegas, que são família. Fui lindamente recepcionada com a energia carinhosa de cada um deles. 

Logo depois, fui sanar a saudade mais dolorida que tive durante toda essa experiência… Ver minha filha novamente foi algo indescritível, e sobre isso, não escrevo mais aqui. A jornada foi intensa, cheia de aventuras e desventuras. Estar à mercê da impermanência o tempo todo foi uma grande escola. Cada paisagem, lufada de vento, farfalhar de neve, cada tropeço nas rochas, cada sorriso novo que fitei, abraço que apertei… Levarei comigo para sempre. Ao participarmos da OPERANTAR XLIII, realizamos o acampamento mais austral já realizado pelo Programa Antártico Brasileiro em toda sua atividade. 

Visitar 2 bases argentinas, navegar com duas embarcações de pesquisa e voar em 3 aeronaves militares diferentes, experienciar alterações de ambiente/clima, e “morar” por quase um mês com pessoas que não conhecia e que se tornaram queridas amigas, não tem preço. Foi uma experiência profissional e pessoal única e que sou muito grata. Encerro aqui esse diário de bordo com nostalgia gostosa por tudo que vivi, na expectativa de estar logo escrevendo para vocês de novo. 

Agora, finalmente, câmbio desligo.

Confira aqui as outras partes do relato já publicadas

Fique por dentro de tudo o que acontece na Univates. Escolha um dos canais para receber as novidades:

Compartilhe

voltar