Há diversas discussões em curso sobre o vício em experiências efêmeras, impulsionado pelo uso de redes sociais, por relações rasas e sem sentido: egoístas, líquidas, narcisistas e facilmente substituíveis. O melhor é sempre o que vem depois: a próxima pessoa, o próximo funcionário, o próximo projeto. No outro extremo, para os saudosistas, o melhor é sempre o que já passou.
Mas será mesmo tão simples viver dessa forma? Será tão simples substituir pessoas como se substitui uma decoração que já não nos agrada?
A ideia de que ninguém é insubstituível no trabalho é, em parte, verdadeira. Em termos práticos, qualquer função pode ser assumida por outra pessoa, com mais ou menos preparo, com mais ou menos tempo de adaptação. No entanto, isso não significa que a substituição ocorra de forma simples, rápida ou sem impactos.
Em contextos organizacionais, especialmente naqueles que valorizam o capital humano e as relações interpessoais, a saída de um profissional pode gerar lacunas difíceis de preencher. Isso acontece porque não se trata apenas de repor uma competência técnica, mas de encontrar alguém com o mesmo nível de comprometimento, senso de responsabilidade, capacidade de cooperação, alinhamento cultural e inteligência emocional. E essas qualidades, como sabemos, não são facilmente replicáveis.
Pessoas são, sim, substituíveis em suas funções. Mas cada indivíduo deixa sua marca única, com experiências, conexões e contribuições que vão além da descrição do cargo. É por isso que, muitas vezes, demora-se a encontrar “alguém à altura”: não se trata apenas de contratar, e sim de integrar um novo profissional que compreenda a complexidade do contexto, da equipe e dos desafios da organização.
Reconhecer isso é importante tanto para líderes quanto para colaboradores. Para os líderes, trata-se de um alerta sobre a importância de valorizar e desenvolver continuamente seus talentos internos, além de manter planos de sucessão bem estruturados. Para os colaboradores, é um convite à humildade: saber que somos substituíveis nos torna mais conscientes da necessidade de aprender, contribuir e cultivar boas relações. Afinal, deixar saudades também é uma forma de reconhecimento profissional.
E você:
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Que tipo de marca está deixando no lugar onde trabalha?
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Sua presença soma? Sua ausência faria falta?
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Você entrega apenas tarefas ou também promove confiança, boas ideias e espírito de equipe?
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Se saísse hoje, diriam: "vai ser difícil encontrar alguém como essa pessoa?”
Essas são reflexões importantes para quem deseja ser mais do que apenas ocupante de um cargo: alguém que realmente faz a diferença. Pense na sua proposta de valor pessoal — aquilo que só você oferece, a partir das suas hard skills (conhecimentos e experiências) e soft skills (habilidades e atitudes). Ela vai além do que está descrito na sua função: está no jeito como você resolve problemas, comunica ideias, se relaciona e colabora com colegas, e contribui para o crescimento do time e da empresa. Valor não está apenas no que você faz, mas em como e por que você faz. E é isso que torna alguém memorável no ambiente de trabalho.
Por fim, inspirados em reflexões atribuídas a Platão, lembramos que cada um só pode oferecer aquilo que carrega em si: pessoas e situações superficiais não têm como gerar experiências profundas. Por isso, é essencial buscarmos relações com propósito, presença e autenticidade.
Que ninguém passe por ti e, ao olhar para trás, diga: “Passei por ele e nada recebi”. Que sua presença seja sempre uma entrega - de atenção, escuta, generosidade. Lembre-se dos seus valores e do impacto que deseja deixar na vida das pessoas ao seu redor.