Utilizamos cookies neste site. Alguns são utilizados para melhorar sua experiência, outros para propósitos estatísticos, ou, ainda, para avaliar a eficácia promocional do nosso site e para oferecer produtos e serviços relevantes por meio de anúncios personalizados. Para mais informações sobre os cookies utilizados, consulte nossa Política de Privacidade.

Sistemas agroflorestais, alternativa sustentável para recuperação de áreas degradadas

Postado as 25/11/2020 10:25:09

Por Texto produzido pela Mestre Miriam Kronhardr

Lucas George Wendt

 

Ao observar os sistemas agrícolas existentes no Brasil, baseados na monocultura e no uso intensivo de agroquímicos, sempre refletia sobre como produzir alimentos sem destruir o ambiente em que vivemos. Nós somos parte de um planeta vivo e interagimos com diversas espécies, principalmente as plantas, que são capazes de fazer fotossíntese e acumular a energia solar. Essa energia depois é transferida para nós na forma de alimento. Somos seres consumidores que necessitam de outros para viver. 

A forma de produção dos alimentos influencia na sua qualidade e, consequentemente, na nossa saúde, além de causar impactos ambientais, sociais e culturais. Um dos impactos causados pelo sistema de produção agrícola convencional é a formação de extensas áreas de terras degradadas, que se tornam improdutivas, o que exige a aplicação cada vez maior de fertilizantes e agroquímicos e aumenta o custo de produção. Há diferentes formas de fazer agricultura; buscar alternativas mais sustentáveis é essencial.

Miriam Kronhardt

As respostas à minha reflexão surgiram quando comecei a estudar os sistemas agroflorestais, também conhecidos por SAF ou agricultura sintrópica. São sistemas de produção agrícola que combinam espécies arbóreas com cultivos agrícolas e até a criação de animais. Essas combinações podem ser feitas de forma conjunta ou sequencialmente. Os SAF diversos, que são baseados na observação da natureza e seguem princípios como a sucessão das espécies, trazem inúmeros benefícios: são capazes de produzir alimento, ao mesmo tempo que conservam o solo e aumentam sua fertilidade, protegem fontes de água e auxiliam na preservação da biodiversidade. 

Os SAF são uma excelente alternativa para recuperação de áreas degradadas. Eles já vêm sendo implantados em algumas regiões do Rio Grande do Sul com resultados positivos, tanto na recuperação do equilíbrio ambiental quanto na sustentabilidade econômica de pequenas propriedades rurais.

Segundo Silva et al. (2012), a presença de árvores em sistemas agrícolas auxilia no controle da erosão e fornece aporte contínuo de matéria orgânica ao solo. As práticas utilizadas nos sistemas agroflorestais são favoráveis à recuperação de áreas degradadas e manutenção dos agroecossistemas. O uso de cobertura vegetal enriquece o solo com matéria orgânica, possibilitando o aumento da atividade microbiana, que atua na ciclagem de nutrientes, disponibilizando às plantas os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento. A diversidade de espécies em uma mesma área favorece a redução de pragas e doenças. 

Com o sombreamento das árvores, em um SAF mais desenvolvido, a temperatura fica mais baixa, proporcionando um ambiente de trabalho mais ameno aos agricultores. Outro benefício dos SAF é que podem ser implantados em áreas de Reserva Legal (RL) e até em Áreas de Preservação Permanente (APP), em propriedades de base comunitária e familiar, desde que não descaracterizem a área de implantação, conforme previsto na Lei no 12.651/2012 (BRASIL, 2012).

É importante refletirmos sobre como nos relacionamos com a natureza. Não se trata somente de preservar as florestas, mas das nossas escolhas diárias, quais produtos consumimos e os impactos causados por eles, em especial a forma de produção dos alimentos. É preciso ter visão sistêmica e buscar soluções mais equilibradas de produção, que são imprescindíveis para nossa qualidade de vida. A adoção dos sistemas agroflorestais diversos, baseados na cobertura vegetal nativa da região onde são inseridos, possibilita a produção de alimentos enquanto preserva os recursos naturais. Assim, devem ser amplamente divulgados como uma alternativa sustentável de produção de alimentos e seu uso incentivado na recuperação de áreas degradadas.