Utilizamos cookies neste site. Alguns são utilizados para melhorar sua experiência, outros para propósitos estatísticos, ou, ainda, para avaliar a eficácia promocional do nosso site e para oferecer produtos e serviços relevantes por meio de anúncios personalizados. Para mais informações sobre os cookies utilizados, consulte nossa Política de Privacidade.

Sujeitos surdos e suas singularidades

Postado as 21/12/2020 14:10:27

Por Aline Rodrigues, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino da Univates

Até o século XVI, o surdo era classificado e identificado como marginalizado e anormal, geralmente sendo preso e escondido em casa pela família, que se envergonhava de mostrar para a sociedade que havia uma pessoa surda em seu meio.

Nesse período, o surdo era denominado e visto apenas como deficiente auditivo. Os surdos eram considerados pelas famílias como um castigo de Deus e, para a sociedade, eram improdutivos e, por isso, inúteis. Thoma (2006, p. 11) afirma que “[...] os filhos defeituosos de tais famílias eram retirados da visão pública pela vergonha que causavam, pois eram considerados resultados das depravações ou pecados cometidos por seus pais”.

Busquei aproximar-me de sujeitos surdos, tentando pensar na possibilidade de eles escaparem dessas representações apresentadas. Tive contatos com surdos, que se transformaram em encontros potentes, já que sempre procurei sair do lugar e das ideias historicamente construídas, criando outros movimentos. Inserida nesse contexto e aberta ao fluxo do pensamento, e não ao seu congelamento, busquei pensar: como um sujeito surdo é afetado por outras vias que não a representação?

Pensar sobre encontros com pessoas, com a vida, com o mundo, lembro ser inegável que, como sujeitos, estamos inseridos em um mundo visual e auditivo, pois vivemos em uma sociedade imagética e sonora. E o sujeito que vive neste mundo auditivo e não ouve?

Os surdos são sujeitos que interagem com o mundo, principalmente a partir de uma experiência visual, e grande parte de suas construções mentais são mediadas pela sua língua materna: a língua de sinais.

Penso sujeitos surdos que, no encontro com sua potência, são capazes de substituir os discursos de negação pelos das sensações. Discursos que não estão dados, mas são criados, na ordem do vivido, do vivenciado, do experimentado e do sensível. 

Vidas mapeadas pelo singular, pelo heterogêneo, não por homogeneidade, categorias ou igualdade. Sujeitos que se movimentam, mãos que não param, sujeitos que experimentam a vida na sua singularidade. Ao findar os encontros com os caminhantes surdos, foi possível perceber que existe um apego ao que é concreto, ao que é palpável e representável. Também percebi o quanto a abstração é para os mesmos algo um pouco distante de suas vidas, entendível em virtude da sua relação visual com o mundo e também pela sua linguagem.