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Lucas George Wendt

Em Garibaldi, crianças participantes do Alfabeletrando apresentam progresso em suas habilidades metalinguísticas

Postado as 08/07/2022 11:52:10

Por Lucas George Wendt

Em agosto do ano passado, o Laboratório de Alfabetização – Alfabeletrando iniciou suas atividades em Garibaldi. A iniciativa é da Prefeitura, por meio da Secretaria da Educação, em parceria com a Universidade do Vale do Taquari - Univates. Cerca de 140 crianças foram atendidas, tendo como principal intenção diminuir os impactos que a pandemia de covid-19 teve sobre o aprendizado dos pequenos. Em 2022 o projeto foi renovado para uma nova oferta em Garibaldi, com o objetivo de ampliar as ações iniciadas no ano anterior. 

Projeto segue

No momento, além de Garibaldi, o Alfabeletrando também está sendo desenvolvido em Lajeado e em Nova Mutum, no Mato Grosso. Cerca de mil crianças são atendidas por essa iniciativa. Em Garibaldi, as equipes da Univates e da Secretaria de Educação fazem um apelo aos pais para estimular a assiduidade das crianças, o que contribui para o correto desenvolvimento das atividades e a fixação das habilidades trabalhadas nas monitorias. 

Lucas Philipsen

Acompanhando o progresso 

O projeto contempla também a avaliação do progresso das crianças participantes, como uma forma de mensurar a efetividade das ações da Universidade com o Alfabeletrando. De todas iniciativas já desenvolvidas ou em desenvolvimento, a primeira oferta do projeto em Garibaldi, de 2021, já oferece dados comprovando a efetividade das ações. Uma equipe de pesquisadores, coordenada pela docente da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHSA) e do Programa de Pós-Graduação em Ensino Kári Lúcia Forneck, tem se envolvido no acompanhamento do desempenho dos alunos participantes. Como atestam os resultados, em Garibaldi, o impacto do projeto na aprendizagem das crianças foi positivo. 

“Não podemos nos pautar apenas nas impressões subjetivas de quem está vendo o processo de aprendizagem acontecer, mas precisamos de dados que evidenciem os impactos das ações e nos auxiliem na tomada de decisões”, explica Kári. 

As avaliações são uma forma de atestar se, de fato, por exemplo, a criança lê melhor e escreve melhor, e sob quais circunstâncias isso acontece. Um dos testes aplicados pelos pesquisadores da Univates foi o TACF, que avalia diferentes aspectos da consciência fonológica da criança. “Essa avaliação detalha a capacidade de reconhecer os fonemas, que são os sons da nossa língua. Em nosso cérebro existe um conjunto de neurônios especializados nesse tipo de reconhecimento. Com base em fundamentos da neurociência, por exemplo, podemos avaliar se as habilidades que dependem dos neurônios da rota fonológica estão sendo devidamente desenvolvidas. Sem elas, todo o processo de leitura fica comprometido”.

Novos métodos de análise para acompanhamento dos grupos de crianças que estão participando do Alfabeletrando em Lajeado e em Nova Mutum/MT estão sendo estudados pela equipe do projeto, de maneira a ampliar o conhecimento sobre os impactos da iniciativa nas crianças participantes. 

 

Lucas George Wendt

O que apontam os dados da etapa de 2021 realizada em Garibaldi 

Ao longo do projeto, cerca de 140 crianças participaram do Alfabeletrando na primeira oferta em Garibaldi. O TACF foi aplicado em duas etapas com as crianças. No começo do projeto, com 60 estudantes, do 1º ao 4º ano. Ao fim, em dezembro, 33 crianças participaram de uma nova aplicação. O teste foi desenvolvido com o mesmo grupo de crianças. Algumas delas não seguiram nas aulas, e outras faltaram no dia da aplicação dos testes, o que justifica a diferença entre o número inicial e o final, mas, ainda assim, esse dado permanece representativo. “Esta é uma amostragem boa, cerca de um quinto de todas as crianças. Muito provavelmente, se avaliadas todas, teríamos uma reprodução do mesmo desempenho”, explica Kári. 

Divulgação/Univates

O TACF avalia seis habilidades diferentes, sendo elas: identificação de rimas, contagem de sílabas, identificação do fonema inicial, contagem de fonemas, comparação do tamanho de palavras e escrita. Para cada habilidade, há cinco atividades valendo um ponto cada, totalizando 30 pontos por criança ao final do teste. À exceção da comparação entre palavras, algo que os pesquisadores estão tentando entender, todos os outros cinco indicadores avaliados pelo TACF apresentaram crescimento nas crianças avaliadas. O resultado global, quando comparadas as pontuações em todos os itens avaliados para todas as crianças, indicou uma melhora estatisticamente significativa no desempenho, de acordo com os dados da pesquisa. 

“Em situações de aprendizagem é muito difícil excluir a variável mundo real. Ou seja, pode ter sido a frequência na escola regular a responsável pela evolução, simplesmente porque a criança seguiu matriculada, frequentando as aulas e desenvolvendo as atividades”, observa Kári. O tratamento estatístico dos dados, no entanto, oferece a resposta a essa questão. Ele permitiu aos pesquisadores identificar que, por turma, nos saberes específicos de cada série, também houve progressão. “Esse dado é bastante importante. Na comparação dos pré-testes e dos pós-testes entre as séries houve variações significativamente positivas. O que esse dado demonstra? Crianças em estágios de aprendizagem distintos, embora frequentassem um projeto com abordagem similar, desenvolveram saberes nos níveis que eram esperados em cada série”. 

Os dados relativos ao desenvolvimento das seis habilidades possibilitaram aos pesquisadores também avaliar como se deu o progresso dos estudantes participantes que compunham a turma do 2º ano, ao final da qual o processo de alfabetização deve estar completo. No segundo teste, participaram 16 crianças do 2º ano, do grupo-alvo da alfabetização. “Esses dados nos interessam sobremaneira. Estatisticamente falando, todas as habilidades tiveram um progresso significativo para este grupo. Eles aprenderam a contar melhor as sílabas, a combinar melhor os fonemas, a comparar o tamanho de palavras, a representar a escrita por meio de fonemas, e assim por diante”, detalha a pesquisadora Kári.  

Divulgação/Univates

Avaliação dos docentes 

As percepções dos docentes - professores e monitores - que participaram do Alfabeletrando também foram registradas pela equipe da Univates. Com esse grupo foi realizada uma outra pesquisa. Os dados coletados indicam que os professores se aproximaram das crianças como indivíduos que pensam, sentem e precisam de cuidados que nem sempre estão relacionados à aprendizagem, mas que as influenciam de alguma forma neste processo.

 “A necessidade de estabelecer vínculos afetivos foi bastante mencionada pelos professores. Foi fundamental dar atenção à autoestima das crianças, porque algumas delas demonstraram estar fragilizadas em razão de suas dificuldades”. Os docentes também afirmaram que os alunos que participaram assiduamente nas aulas do Laboratório de Alfabetização apresentaram avanços mais significativos na leitura e na escrita.

Na avaliação dos docentes, um dos desafios foi planejar aulas que se adequassem aos diferentes níveis de alfabetização. Evidenciou-se a necessidade de prolongar o projeto de forma a acompanhar o ano letivo e, por fim, verificou-se a importância da formação continuada de professores e do acompanhamento da universidade para o estudo de novas formas de ensinar em sala de aula.

Divulgação/Univates

Avaliação na Educação 

Neste contexto, instrumentos de avaliação são necessários. Os testes, como o TACF - Teste de Avaliação da Consciência Fonológica, o PROLEC - Provas de Avaliação dos Processos de Leitura e o CONFIAS -  Consciência Fonológica Instrumento de Avaliação Sequencial, são recursos à disposição da equipe da Univates. A docente Kári argumenta que a avaliação quantitativa do progresso na aprendizagem de crianças não é uma perspectiva unânime entre os educadores, mas se configura, em diferentes contextos, como ferramenta importante para a tomada de decisões. 

“Não estamos transformando crianças em números. É diferente disso. As singularidades permanecem muito importantes. Esse tipo de abordagem pautada em dados ensina o gestor a identificar as especificidades das estratégias a serem adotadas para avançar na educação, no ensino e, consequentemente, na aprendizagem”, afirma Kári. 

Divulgação/Acervo pessoal

“O que dá certo no projeto é esse todo."

Cleide Justina Brand é mãe de Pedro Ross, de 7 anos, que participa do projeto desde o começo, em agosto de 2021. Ela comenta que a família incentiva Pedro a participar e percebe nele, estudante da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Madre Felicidade, o envolvimento com o Alfabeletrando. "Para o Pedro, a pandemia acabou dificultando o processo de aprendizagem", conta a mãe. O momento que restava para a família poder acompanhar a criança nas tarefas enviadas pela escola - à noite - era de pouca qualidade, uma vez que ele já estava cansado. 

 

"Nós também, com a sobrecarga do dia de trabalho, não estávamos com o empenho correto. A lição do dia era feita, mas eu percebia que não acontecia a aprendizagem como ela deveria ser, especialmente para ele, que passava pelo momento da alfabetização", detalha Cleide. Na opinião da mãe, um grande atrativo do Alfabeletrando é o cuidado com as crianças e a boa recepção aos alunos. "Eles são bem recebidos desde o começo e a parte lúdica também é um destaque. Para o aprendizado, esses elementos facilitam muito. Para o Pedro tem sido muito positivo. É possível perceber o antes e o depois do Alfabeletrando no processo dele. O que dá certo no projeto é esse todo".

Divulgação/Acervo pessoal

Fabiane Conzatti, mãe de João Víctor Conzatti, de 8 anos, conta que o filho gosta de participar do Alfabeletrando. O estudante está no 3º ano da escola Madre Felicidade. “Ele gosta de participar das aulas”, observa Fabiane. A mãe comenta que o menino teve lacunas na alfabetização ocasionadas pela pandemia. “Ele não teve a base principal, e o projeto o está ajudando no reconhecimento das letras. Ele conhece e identifica as letras e forma sílabas, mas algumas palavras ainda são difíceis para ele ler”. Essas são habilidades que, por meio da ludicidade, o Alfabeletrando procura desenvolver. 

A secretária de Educação de Garibaldi, Beatriz Arregui Sopelsa, avalia a experiência do município com o projeto como positiva. “Falar do Alfabeletrando é falar da magia e da importância que a leitura e a escrita têm para os seres humanos. Nossos alunos participantes do projeto estão tendo a oportunidade de desenvolver atividades didático-pedagógicas por meio de experiências lúdicas. O projeto está proporcionando aos estudantes participantes maior segurança, serenidade e prazer em fazer parte do processo de ensino e aprendizagem”. 

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