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Divulgação

Perspectivas para a Copa do Mundo de 2022

Postado as 07/11/2022 16:09:07

Por Caito Kunrath e Leonardo De Ross Rosa

CAITO ANDRÉ KUNRATH

Diplomado da Univates

Doutorando em Ciências do Movimento Humano

 

Atualmente, tenho o importante compromisso e a responsabilidade de ser professor da disciplina de Futebol na Instituição. Como docente, não posso escrever apenas com entusiasmo e esperança de um torcedor brasileiro sobre as expectativas da Copa. Aqui, minha missão é compartilhar ideias e argumentos em favor da ciência por um futebol moderno de qualidade e pelo espetáculo do jogo.

Em primeiro lugar, o futebol não pode ser considerado apenas um esporte. Vemos, por todos os lados, aficionados pela modalidade postando em suas redes sociais imagens com a famosa legenda “não é apenas um esporte”. Sim, isso já virou jargão. Futebol é negócio. Negócio! E, como negócio, precisa ser atrativo. Inspirando-se no método científico, é preciso que as delegações e equipes observem informações coletadas, identificando e compreendendo padrões do fenômeno e, assim, se preparando para o futuro.

No futebol não é diferente. Após a Copa do Mundo de 2018, a FIFA publicou um technical report contendo informações sobre o desempenho de todas as seleções participantes. No documento, há estatísticas aplicadas às equipes, aos jogos e uma quantidade enorme de informações especializadas observadas e comentadas por um grupo seleto do FIFA Coaching & Player Development Department. Algumas delas mostram a localização da finalização à baliza convertida em gol, o percentual de posse de bola, a compactação da equipe com e sem bola (indicada através da m2 da equipe no campo de jogo), a largura, amplitude e profundidade da equipe na nas fases ofensiva e defensiva, a distância percorrida em alta intensidade e em sprint (acima de 25 km/h), entre tantas outras. É vasto o número de publicações em periódicos especializados em Ciências do Esporte que trazem resultados que “traduzem o jogo” e indicam informações que colaboram para o avanço na modalidade por meio do conhecimento produzido.

É por isso que acredito em uma Copa do Mundo de entrega total dos jogadores. Um jogo intenso, físico e mental, baseado no conhecimento científico disponível atualmente. Por exemplo, nos últimos anos, estudos mostram que a distância percorrida em jogos das melhores competições internacionais (Premier League e La Liga) não foi alterada, no entanto a demanda física em alta intensidade aumentou aproximadamente 30% entre as temporadas de 2009/2010 e 2020/2021. Incrivelmente, os jogadores mais rápidos estão alcançando 38 km/h em uma partida.

Em termos práticos da característica tática dos duelos, penso que há uma tendência de as equipes jogarem de forma predominantemente ofensiva, fazendo uso do jogo posicional com utilização racional da amplitude do campo, na ocupação dos espaços e nas sucessivas trocas de passes rápidosi. Com uma marcação ajustada em bloco alto do adversário, vejo uma propensão de o jogo ser desenvolvido na zona frágil do adversário por meio da bola descoberta – isto é, uma bola alçada na última linha defensiva do oponente quando não há pressão no portador da bola -, e os goleiros com participação ativa na etapa de construção ofensiva. 

Defensivamente, vejo uma tendência de comportamentos do estilo perde-pressiona (pressão imediata dos jogadores mais próximos da bola), com o objetivo de recuperar a bola rapidamente após sua perda, e a marcação predominantemente por zona, tendo em vista a característica cada vez mais coletiva do jogo.

Certamente será uma grande Copa!

Fauzan Saari/Unsplash

LEONARDO DE ROSS ROSA

Professor da área de Ciências da Vida 

Doutor em Ambiente e Desenvolvimento 

 

Possivelmente, diferente de meu colega e amigo Caito, minha visão seja bem menos técnica e apurada, mas tem um lastro de mais de 40 anos de arquibancada, uma adoração pelo esporte e um olhar quase sempre atento, então “me meto” a opinar.

O Brasil tem chances? Sim. Qual a razão? Tite. Só por ele? Quase só.

A seleção brasileira tem um time bom, estruturado pelas mãos de um técnico estudioso, observador, que se comunica muito bem e que conhece o que faz. Une a experiência de ter sido um meia mediano com os bancos acadêmicos que partem de uma graduação essenciali. Tite trouxe aos olhos brasileiros “ex-meninos”, que a grande massa sequer sabia que existiam, e transformou-os em um time equilibrado e que faz com que as individualidades surjam a partir de um bom coletivo.

A montagem da equipe não poderia ser de outra forma, infelizmente, pois muitos se ressentem da falta de jogadores que atuam por aqui. Mas os europeus estão um tanto à nossa frente. Aqui, apesar da obrigatoriedade de manter jovens atletas na escola, de forma geral, os clubes certificados como “formadores” o fazem mais para “cumprir a regra” do que para tirar proveito de jovens que conheçam mais do que o campo e a bola. Está mudando, mas ainda sofremos com a diferença. No futebol, educação também não é prioridade.

Dessa forma, Tite buscou a turma que está lá fora para lutar contra quem é lá de fora. Se nos dermos conta, os clubes europeus de primeira linha não contratam mais brasileiros com 23 ou 24 anos, exceto por uma exceção, somente em casos excepcionais. Hoje buscam no Brasil jovens de 18, 19 anos, quando não meninos de 13 ou 14. A verdade é que a adaptação fora de casa exige tempo, e não é somente quanto ao clima, à língua, à estrutura familiar… Mas sobremaneira quanto ao conhecimento para entender “o jogo”, para desenvolver habilidades e criar competência tática. Os clubes buscam jovens promissores para ensinar como fazer.

Outra possível justificativa para essa opção é que nenhum time europeu faz amistosos com o Brasil. Por que será? Veja que o Brasil não enfrenta um time europeu desde março de 2019. E isso faz toda a diferença. Jogamos contra bons times, mas não com aquele jogo metódico, estruturado e pensado de boa parte dos clubes europeus. Atualmente países pequenos, com material humano em menor quantidade, talvez com menos habilidade técnica para o futebol, têm mostrando que futebol não é mais “só isso”. Hoje é ciência a serviço da paixão. Assim, uma seleção com quem está na Europa é a maneira de enfrentar aquele jeito de jogar. Soma-se a eles uma ou outra exceção que esteja no Brasil (aliás, em nenhuma função central de campo), e pronto: está feito o time.

Voltando ao jogo, vejo que ainda não temos um grupo carismático nem atletas assim. Alisson é um grande goleiro, mas está longe de ser um Marcos ou um Taffarel enquanto símbolo. Neymar é muito bom, mas é mal assessorado e não criou uma identidade. Não vejo nele a autenticidade de um Romário, um cara afiado, objetivo, direto, que metia medo nos adversários pois todos sabiam que, além de falar, ele fazia. Um cara estilo “a caravana passa e os cães ladram”. Neymar se enrosca nas polêmicas, me parece um representante da “geração fragilidade”, tudo afeta, tudo é questionável. E isso mexe com aquilo que é a diferença do esporte: a energia, a paixão. Ele não arrebata, não carrega junto. Assim, não consegue “se responsabilizar”. Talvez o líder possa ser Thiago Silva, em uma reviravolta como a de Dunga, que foi do inferno de 1990 para a glória em 1994.

Outros candidatos, sem a Itália renovada em estilo de jogo e que me parecia a melhor seleção do mundo, cito Argentina, mesmo com os “azares” de Messi, a Alemanha, a França e a Espanha. Apontaria ainda o Uruguai, que conta com bons jogadores, e alguns europeus, como Bélgica, Sérvia e Croácia. Esses podem, dentre o entrevero dos grandes, e cruzamentos interessantes, chegar a uma semifinal. Não acredito nas sempre promessas Inglaterra e Portugal.

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