IBGE inicia pesquisa inédita para mapear impactos das enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, comunidade do Vale do Taquari deve participar

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) inicia, a partir de setembro de 2025, a Pesquisa Especial sobre as Enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul (PEERS), uma iniciativa inédita e de caráter experimental criada para compreender, em profundidade, os efeitos do maior desastre climático recente no estado. Voltada à coleta de informações diretamente com a população atingida, a pesquisa busca subsidiar o planejamento de políticas públicas, ações de reconstrução e estratégias de prevenção a novos eventos extremos em todo o país.

Desde 20 de outubro, cidades como Santa Cruz do Sul, Lajeado, Sobradinho e Encantado estão contando com a realização da pesquisa. No Vale do Taquari, no geral, o percentual de participação está baixo. Nesse sentido, o IBGE solicita a participação da população para qualificação da pesquisa. 

A PEERS integra o conjunto de ações da força-tarefa instituída pela Presidência da República para apoiar o Rio Grande do Sul após as enchentes ocorridas entre abril e maio de 2024. O estudo também está vinculado ao Singed Lab, laboratório de inovação do IBGE criado para desenvolver metodologias e soluções estatísticas em contextos emergenciais. Ao reunir dados sociais, econômicos e territoriais, a pesquisa pretende oferecer um retrato detalhado dos danos causados pelo desastre e das condições de vida da população um ano após os eventos.

Segundo o IBGE, a principal finalidade da PEERS é compreender como as pessoas foram afetadas pelas enchentes, tanto no momento do desastre quanto ao longo do período de recuperação. A partir dessas informações, será possível identificar impactos diretos e indiretos nos domicílios, nos entornos urbanos e na vida pessoal dos moradores, além de avaliar a percepção da população em relação à qualidade de vida após a catástrofe. Os dados, coletados de forma experimental, servirão como base para o desenvolvimento de políticas públicas estruturais e de planos de prevenção e resposta rápida a desastres climáticos futuros.

As entrevistas serão realizadas exclusivamente por telefone, entre os dias 15 de setembro de 2025 e 29 de janeiro de 2026, por agentes do Centro de Entrevista Telefônica Assistida por Computador (CETAC) do IBGE. As ligações partirão do número oficial (21) 2142-0123, e a participação é restrita às pessoas previamente selecionadas a partir do cadastro do Censo Demográfico de 2022. Podem responder à pesquisa moradores com 14 anos ou mais que estavam presentes no domicílio durante o período das enchentes, entre abril e maio de 2024.

A amostra da PEERS é composta por mais de 30 mil domicílios com número telefônico registrado no Censo 2022, localizados em 133 municípios gaúchos afetados pelo desastre. Os moradores desses domicílios foram previamente informados por meio de carta enviada pelo IBGE, com orientações para salvar o número da instituição na lista de contatos e aguardar a ligação dos entrevistadores. Para garantir transparência e segurança, os respondentes também podem confirmar a identidade do agente de coleta ou agendar dia e horário da entrevista pelo telefone 0800 721 8181 ou pelo e-mail peers@ibge.gov.br.

Cronograma 

A coleta de dados será organizada por regiões, seguindo um cronograma escalonado de divulgação e contato telefônico. A partir de 15 de setembro, as entrevistas começam em Porto Alegre. Em seguida, a pesquisa alcança municípios como Novo Hamburgo, Taquara, Montenegro e Charqueadas a partir de 29 de setembro. 

No dia 13 de outubro, entram no cronograma cidades como Passo Fundo, Carazinho e Frederico Westphalen, entre outras.

Em novembro, a pesquisa chegou a Pelotas e Camaquã a partir do dia 3, seguiu para Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Nova Prata a partir do dia 10, e encerra a etapa de contatos regionais em municípios como Santa Maria, São Gabriel, Uruguaiana e Cachoeira do Sul a partir de 17 de novembro. 

A lista completa de municípios participantes está disponível nos canais oficiais do IBGE.

O processo de entrevista inclui a confirmação da identidade do informante, a verificação dos critérios de participação e a aplicação do questionário por telefone, com garantia de sigilo absoluto das informações, conforme determina a legislação estatística brasileira. O IBGE reforça que os dados fornecidos serão utilizados exclusivamente para fins estatísticos, sem qualquer identificação individual.

O questionário da PEERS aborda um amplo conjunto de temas relacionados aos impactos das enchentes. Entre os principais tópicos estão os danos aos domicílios, como inundação, perdas de bens, danos estruturais e interrupção de serviços essenciais, como água, energia elétrica e internet. Também são investigados os impactos no entorno das residências, incluindo danos a ruas, pontes, rodovias, transporte público, segurança e serviços de limpeza urbana.

A pesquisa contempla ainda questões sobre ocorrências e impactos pessoais, como situações de resgate, recebimento de ajuda emergencial, atendimento médico, evacuação forçada e efeitos na saúde física e mental. O perfil da população entrevistada é analisado a partir de variáveis como idade, escolaridade, cor ou raça, tipo de moradia, mudanças residenciais após o desastre e rendimento. Além disso, o questionário investiga a situação de trabalho e estudo antes e depois das enchentes, bem como a percepção atual da qualidade de vida, o acesso a serviços públicos e a avaliação das medidas de auxílio, recuperação e prevenção adotadas após o evento.

O desenvolvimento da PEERS teve como base referências internacionais, incluindo recomendações da Comissão de Estatística das Nações Unidas para o aprimoramento de estatísticas ambientais e diretrizes do Banco Mundial para a adaptação de pesquisas domiciliares em contextos de crise. Experiências internacionais relacionadas a outros eventos climáticos extremos também contribuíram para a definição do escopo e da metodologia da pesquisa. 

De acordo com o IBGE, a PEERS representa um marco para as estatísticas ambientais no Brasil, ao propor uma abordagem pioneira para medir, de forma integrada, os impactos sociais, econômicos e territoriais de um grande desastre natural. Os primeiros resultados, ainda em caráter experimental, estão previstos para divulgação no primeiro semestre de 2026, ampliando o conhecimento sobre os efeitos das enchentes de 2024 e apoiando a formulação de políticas públicas mais eficazes para enfrentar eventos climáticos extremos no futuro.