Você levanta pela manhã, toma café, toma uma ducha para despertar e escolhe a roupa que vai vestir. Mas você já imaginou como seria fazer tudo isso sendo cego? Ou tendo alguma deficiência? Para facilitar o dia a dia de pessoas com deficiência, diversas tecnologias auxiliam nas atividades cotidianas e há iniciativas para incluir essas pessoas nas escolas, universidades e no mercado de trabalho. E, apesar de ser um movimento recente, a moda não fica de fora disso.
Um dos pioneiros a pensar no vestuário adaptado foi o estilista francês Chris Ambraisse Boston após desenhar uma cadeirante em um metrô que relatou seu amor pela moda e a sua dificuldade em encontrar peças adaptáveis e com design atraente. Foi então que Boston passou a estudar o assunto e fundou a marca A&K Classics, a qual une multifuncionalidade com estética. Boston também aplica o conceito de sustentabilidade em suas coleções ao reaproveitar tecidos que seriam descartados.
No Brasil, o olhar inclusivo da moda teve início a partir do 1º Concurso de Moda Inclusiva, realizado pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Governo de São Paulo em 2009. Com o objetivo de estimular estudantes de moda a lançarem um olhar fashion e a desenvolverem soluções que facilitem o cotidiano da pessoa com deficiência, o ponto alto do concurso é o desfile de moda inclusiva - uma prática que já foi adotada em diversas outras cidades do Brasil e do mundo, como Milão, a capital internacional da moda. Na Univates, o Desfile de Moda Inclusiva é realizado pelo curso de Design de Moda desde 2016, em parceria com a empresa Mercur, quando 16 modelos desfilaram peças produzidas especialmente para eles por estudantes da Instituição.
De acordo com a professora do curso de Design de Moda Beatriz Rossi, boa parte do olhar da moda para iniciativas de inclusão se deu a partir da Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que abriu diversas oportunidades no mercado de trabalho e apontou a necessidade de roupas adequadas e adaptadas para que pessoas com deficiência pudessem estar bem vestidas e confortáveis na rotina de trabalho. “A gente não pode pensar apenas em embelezamento. A gente precisa pensar em atender às necessidades especiais que essas pessoas têm e também a questão do conforto. Eu costumo dizer que isso se tornou pulsante, porque passou a pulsar essa necessidade de a gente incluir essas pessoas socialmente também por meio da roupa”, afirma ela, acrescentando que o conceito abordado com os estudantes do curso é justamente o de que fazer moda não é só fazer roupas. “Também é, mas está muito além disso”, observa.
Moda com propósito
A diplomada Heloísa Beneduzi abordou a moda inclusiva em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “A partir da pesquisa realizada para a elaboração do artigo científico que foi apresentado para a banca, ficou claro que existe a possibilidade de uma empresa ser economicamente sustentável oferecendo produtos de moda inclusiva”, afirma ela, acrescentando que a escolha pelo tema está relacionada à decisão de que seria muito importante para ela abordar a moda com propósito, por meio da moda inclusiva.
Apesar de bastante desafiador, vejo que o papel do designer deve ser este de questionar e chamar a atenção para os mais diversos assuntos, buscando tornar a moda cada vez mais justa e a favor de todas as pessoas diplomada do curso de Design de Moda Heloísa Beneduzi
Como a moda pode ser inclusiva?
Esta matéria faz parte da edição nº 5 da Revista Univates. Confira a versão digital aqui.
