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Escavação do RS-T-114, em 2014

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Consumo e cultivo de plantas entre povos tupi-guarani pré-coloniais serão estudados em pesquisa inédita de pós-doutorado realizada na Univates

Postado as 21/12/2021 09:15:23

Por Lucas George Wendt

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Fernanda Schneider

Fernanda Schneider

A doutora Fernanda Schneider, que tem seu título pelo Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates, recentemente teve um projeto de pós-doutorado aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Por meio da Chamada CNPq 16/2020 para Bolsa de Pós-Doutorado Júnior (PDJ) no Brasil, Fernanda vai seguir pesquisando os povos Tupi-Guarani, assunto que já abordou no mestrado, também realizado no PPGAD, e que foi aprofundado no doutorado. 

As atividades vão acontecer ao longo dos próximos 12 meses vinculadas ao Museu de Ciências da Univates (MCN), no Laboratório de Arqueologia (Labarq). O projeto apresenta uma proposta de investigação comparativa e inédita para a Arqueologia Tupi-Guarani em que serão analisados vestígios carpológicos carbonizados (sementes e outras partes das plantas), uma abordagem arqueobotânica ainda pouco explorada no cenário brasileiro. 

As atividades serão orientadas pela professora doutora Neli Teresinha Galarce Machado, docente permanente do PPGAD, coordenadora do Programa e bolsista de Produtividade em Pesquisa CNPq, Nível 2. Estarão envolvidas as Universidades Federal de Pelotas (Ufpel), Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e Federal do Piauí (UFPI).  Os estudos também terão envolvimento do Instituto Nacional de Antropología y Pensamiento Latinoamericano (INAPL, Buenos Aires, Argentina).

Escavação do RS-T-114, em 2014

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Com origem amazônica, os Tupi-Guarani constituem uma entre as 10 famílias linguísticas associadas ao Tronco Tupi. Enquanto as outras nove famílias teriam ficado em um ambiente restrito da Amazônia, os Tupi-Guarani teriam saído há cerca de 2500 anos do seu ponto de gênese e protagonizado uma das maiores expansões linguísticas da América do Sul. Ocuparam áreas de florestas tropicais, florestas secas e matas de galerias em um polígono de quase 6.000 km que cobre partes do Brasil, da Argentina, do Uruguai, do Paraguai e da Bolívia. 

A pesquisadora quer entender se, apesar de uma mesma origem amazônica, ao se dispersarem por ambientes heterogêneos carregando consigo especificidades na língua, na cultura material e na organização social, teriam apresentado também variações regionais no uso e no consumo de recursos botânicos. 

Para isso, Fernanda vai investigar e adicionar dados ao tema comparativamente a partir da análise de três contextos arqueológicos Tupi-Guarani distintos: um sítio Guarani do Sul do Brasil (sítio RS-T-114, no Rio Grande do Sul), um sítio Tupinambá do Nordeste do Brasil (Sítio Ipanema, Pernambuco) e um sítio Proto-Tupinambá do Nordeste do Brasil (Sítio Baixio dos Lopes, Ceará). 

Nos sítios selecionados serão realizadas análises de assembleias de vestígios carpológicos carbonizados seguindo quatro fases metodológicas: coleta, triagem, análise tafonômica e análise taxonômica.

“Entre muitas possibilidades da Arqueobotânica optou-se pela análise de vestígios carpológicos porque, em geral, essa classe de vestígio apresenta excelente preservação nos contextos arqueológicos, e tem aparecido em grande quantidade nas camadas de ocupação Tupi-Guarani (em especial nas terras pretas)”, revela Fernanda. Além disso, é de fácil recuperação e aplicação metodológica em laboratório, possui alto potencial para a identificação de espécies cultivadas e silvestres e, por fim, apresenta baixo custo de análise”, explica. 

Entre os resultados esperados, Fernanda tem a expectativa de observar semelhanças e diferenças na utilização de recursos botânicos entre os diferentes contextos Tupi-Guarani avaliados, possibilitando, assim, inferir sobre o grau de prescritividade Tupi-Guarani quanto à utilização dos recursos botânicos, além de avaliar possíveis mudanças nas estratégias econômicas ao longo do tempo e do espaço ou mesmo observar adaptações alimentares regionais vinculadas aos ambientes ocupados. 

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Escavação do RS-T-114, em 2014

Escavação do RS-T-114, em 2014

O desenvolvimento do projeto tem potencial de impacto positivo e evolutivo em diferentes esferas. Destaca-se, em especial, o seu impacto técnico-científico, uma vez que a proposta é inédita para o contexto científico da Arqueologia Tupi-Guarani. Ao propor uma discussão acerca do uso de recursos botânicos entre distintos contextos Tupi-Guarani pré-coloniais a partir da recuperação e da análise de vestígios carpológicos carbonizados, o projeto apresentará dados botânicos obtidos diretamente em contexto arqueológico e, assim, possibilitará um real aprofundamento interpretativo relacionado ao tema. 

“Embora esse seja um tema bastante discutido hipoteticamente no cenário arqueológico, ainda necessita de dados consolidados e sistemáticos para o caso Tupi-Guarani, tal como este projeto se propõe a investigar”, explica a doutora. Destaca também o seu impacto com relação à difusão do conhecimento e colaboração científica. Neste caso, uma vez que a proposta está associada a um grupo composto por pesquisadores sediados em diferentes instituições nacionais e internacionais, estimulará a cooperação científica e, por consequência, a difusão do conhecimento produzido. 

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