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O trabalho teve como propósito analisar as frentes expansionistas do Estado brasileiro e o processo de contato envolvendo fronteiras culturais e étnicas com os indígenas Enawene Nawe nos territórios do alto rio Juruena, localizado no noroeste do Mato Grosso. O estudo configurou-se em uma pesquisa de cunho histórico na perspectiva social e baseado em fontes documentais, visando à reconstrução histórica dos acordos e desencontros entre os povos Enawene Nawe e Inoti (brancos).
A pesquisa traz não apenas fatos históricos, mas também apresenta o povo Enawene Nawe como sujeito ativo na construção de sua história. O estudo também acrescenta reflexões importantes sobre identidade e etnicidade, demonstrando como o choque de identidades contrastantes pode reafirmar a identidade de um povo. O contato interétnico trouxe aos Enawene e à sociedade não indígena a possibilidade de interação social, bem como trouxe aspectos reveladores das diferenças sociais e culturais, a afirmação de identidades contrastivas.
A análise foi realizada a partir da pesquisa e da apresentação dos relatos registrados no diário de campo do Padre Vicente Cañas, no qual o autor apresentou com riqueza de detalhes o cotidiano do povo Enawene Nawe na década de 1970. Padre Vicente Cañas registrou em seu diário não apenas as percepções dos não indígenas sobre o contato, mas também destacou as impressões e reações dos indígenas do povo Enawene Nawe que viviam na aldeia durante o contato. Nesses relatos, o padre retratou sua convivência diária com eles e a luta pela demarcação do território, uma das consequências do contato com os não indígenas e as frentes expansionistas.
Assim como ocorreu nas demais regiões do Brasil, o processo de colonização e de consolidação de áreas do alto rio Juruena e do Projeto Juína significa um marco de luta para os povos indígenas desse território. No que se refere aos Enawene, aprender as regras do jogo do discurso e da retórica dos não indígenas, além de uma necessidade, é também uma estratégia de sobrevivência no mundo regido pela lógica ocidental capitalista, no qual imperam conflitos, práticas de violência, jaguncismo, escravidão por dívidas, entre outros descasos com a vida humana.
“Observamos que as evidências históricas denunciam por si só o processo da frente pioneira no município de Juína e nos demais, cujos resultados são devastadores. Os conflitos territoriais e a desvalorização da cultura e da riqueza interétnica ficam elucidados diante do processo histórico dos municípios”, conclui Noemi.
“A história é sempre contada na perspectiva do colonizador. Portanto, é fundamental elucidar o processo de forma a evidenciar não apenas a participação de um grupo étnico. Os Enawene Nawe não são vítimas do processo colonizador. Apesar das injustiças vivenciadas, lutaram e ainda lutam pelo seu jeito de ser, viver e compreender o mundo”, finaliza a pesquisadora.
