Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Vale do Taquari - Univates se dedicou a olhar uma das faces decorrentes das migrações humanas: as práticas de interação entre os migrantes e o cenário estabelecido no local de recepção. A pesquisa identificou práticas sociais transnacionais na vida cotidiana dos imigrantes haitianos em Lajeado, possibilitando a sua permanência na cidade ou então as condições para a continuidade do caminho migratório.
Os achados estão vinculados aos resultados do projeto de pesquisa “Cidades médias e os fluxos imigratórios internacionais recentes: o exemplo da cidade de Lajeado na região do Vale do Taquari/RS”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com apoio institucional da Univates. O trabalho teve por objetivo compreender os espaços de inserção dos imigrantes haitianos na cidade de Lajeado e algumas práticas sociais que dinamizam as mobilidades transnacionais no seu cotidiano.
Destaques do estudo
“Considerando minha área de formação”, detalha a professora Fernanda, "economia, é muito bom compreender como os migrantes influenciam e são influenciados pelo contexto econômico das regiões. A chegada dos primeiros migrantes ao Vale do Taquari esteve associada à falta de mão de obra em empresas locais, que recrutaram trabalhadores estrangeiros no Norte do país e trouxeram eles para cá, dando transporte e infraestrutura para que eles pudessem residir em um primeiro momento. Atualmente, contudo, a realidade econômica é totalmente distinta do que tínhamos no início da década passada, e analisar a sua inserção no mercado de trabalho e as relações estabelecidas torna-se muito interessante”, complementa a docente.
Para os migrantes, a mobilidade e circularidade em busca de melhores condições de vida é uma constante. Por isso, muitos deles já migraram mais de uma vez até chegar a Lajeado e continuam pensando em migrar para novas regiões que forem mais atraentes. Alguns inclusive já estavam na região, migraram e retornaram para cá, por terem família, amigos e conhecerem a região. A migração também não necessariamente envolve todos os membros da família. Há casos em que o esposo reside em um local, a esposa em outro e, ainda, os filhos, se maiores, podem estar com outros parentes, mas, se isso for para melhorar a condição da família no futuro, o farão.
A religião é um dos pilares da migração haitiana. Em Lajeado, os haitianos fundaram duas igrejas evangélicas, Igreja Evangélica de Jesus Cristo de Lajeado e Igreja Haitiana Betel de Lajeado, onde as celebrações são realizadas na língua materna, o crioulo. São espaços de expressão da fé e de encontro dos migrantes.
